Demitida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a diretora do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) Lisa Cook afirmou nesta terça-feira (26/8) que o republicano não tem autonomia para afastá-la do cargo e prometeu permanecer na autoridade monetária.
Segundo Cook, em uma declaração reproduzida por seus advogados, “não há motivo legal” para a demissão.
“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, afirmou a diretora do Fed.
“Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”, completou.
Segundo o advogado de Cook, Abbe David Lowell, “todas as medidas necessárias” contra a decisão de Trump serão tomadas “para impedir a tentativa de ação ilegal”.
Acusações
O anúncio da demissão de Lisa Cook foi feito por meio das redes sociais de Donald Trump. Em um comunicado publicado em seu perfil na Truth Social, o presidente dos EUA afirmou que Cook teria feito “declarações falsas” em contratos de hipoteca.
“O povo americano precisa ter plena confiança na honestidade dos membros encarregados de definir a política e supervisionar o Federal Reserve”, completou Trump.
Na semana passada, Trump havia mencionado um pedido do chefe da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA, na sigla em inglês) para que o Departamento de Justiça dos EUA investigasse a diretora do Fed pela eventual fraude.
O presidente do conselho da FHFA, Bill Pulte, disse que Cook teria cometido a fraude ao designar um condomínio como residência principal apenas duas semanas depois de tomar um empréstimo para uma outra casa de sua propriedade no estado do Michigan.
“Quando alguém comete fraude hipotecária, prejudica a fé e a integridade do nosso sistema. Não importa quem você é: ninguém está acima da lei”, escreveu Pulte em publicação no X (antigo Twitter).
Lisa Cook faz parte do Conselho de Governadores do Fed, que é composto por sete membros. Ela também participa do comitê de 12 integrantes responsável por definir a política monetária dos EUA.
Cook foi indicada ao Fed em 2022, pelo então presidente dos EUA, Joe Biden. Ela foi a primeira mulher negra a assumir o posto.
Trump em guerra contra o Fed
Até alguns meses atrás, Trump ameaçava publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell, de demissão, o que não se concretizou.
A diretoria do Fed é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado por Joe Biden para um segundo mandato à frente do Fed. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.
Juros
No fim de julho, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece nos dias 16 e 17 de setembro.
O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,7% em julho, na base anual, mesmo resultado registrado em junho. Na comparação mensal, o índice foi de 0,2%, ante 0,3% em junho.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.
Até o fim de 2025, o BC dos EUA tem programadas mais três reuniões de política monetária – em setembro, outubro e dezembro. Nas últimas semanas, ganhou força entre os analistas do mercado a tese de que o Fed deve começar a baixar os juros possivelmente a partir da próxima reunião, no mês que vem, com um possível corte de 0,25 ponto percentual.
Na semana passada, declarações de Jerome Powell indicaram que há chance real de corte de juros em setembro.
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