As declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Jerome Powell, indicando um possível corte da taxa básica de juros da economia norte-americana já em setembro, trouxeram uma onda de otimismo ao mercado financeiro no fim da manhã desta sexta-feira (22/8).
De acordo com economistas e analistas consultados pela reportagem do Metrópoles, embora a maioria do mercado já apostasse no início do ciclo de cortes pelo Fed, a fala do chefe da autoridade monetária foi considerada ainda mais enfática nessa direção.
Em sua fala no Simpósio de Jackson Hole, conferência anual nos EUA que conta com a participação de dirigentes do Fed, Powell não cravou que os juros cairão no mês que vem, mas indicou que existe essa possibilidade. Por outro lado, o chefe do Fed chamou atenção, ainda, para riscos de uma inflação alta.
“O discurso de Powell em Jackson Hole hoje trouxe um novo grau de otimismo para um mercado altamente apoiado na expectativa de uma breve retomada do ciclo de cortes de juros. Apesar de reconhecer que o ambiente macro continua desafiador, especialmente com as mudanças em imigração e políticas comerciais afetando oferta e demanda com efeitos difíceis de antecipar, o presidente do Fed afirmou que a política monetária está restritiva e sinalizou a proximidade de ajustes, o que resultou em uma resposta imediata dos ativos”, afirma Paula Zogbi, economista-chefe da Nomad.
Segundo Zogbi, além das indicações de cortes de juros, “Powell buscou tranquilizar o mercado em relação a interferências políticas nas decisões do BC, em meio a frequentes ataques do presidente norte-americano Donald Trump”.
“Ele disse que as decisões de política monetária serão tomadas somente em cima de dados e suas implicações para a perspectiva econômica e o balanço de riscos, e que essa abordagem jamais será deixada de lado pelos membros do comitê. Essa postura firme é essencial para manter o nível de juros de longo prazo controlados, já que uma política monetária pouco confiável aumenta a precificação de risco de uma economia e, consequentemente, as taxas cobradas pelo mercado para investir em seus ativos”, afirmou.
Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, compartilha da mesma avaliação. “Powell deu mais certeza ainda de que os indícios, principalmente vindos do mercado de trabalho, apontam para que o BC dos EUA não mantenha uma política monetária tão restritiva assim”, observou.
“Ele [Powell] deixou muito claro no discurso que todas as decisões do Fed são pautadas exclusivamente por dados e pelo ‘framework’ econômico e que o Fed não vai se desviar disso. O corte em setembro já era esperado, mas Powell está sendo um pouco mais leniente do que o mercado esperava”, completou Calestine.
O economista Maykon Douglas, por sua vez, avalia que as declarações de Powell “reforçam como o payroll de julho pode ter sido um ‘turning point’ para o que os diretores do Fed pretendem fazer”.
“Na ata, a maioria do comitê enxergava que os riscos altistas sobre a inflação eram maiores que os riscos baixistas sobre o emprego. A fala de hoje cita uma assimetria menor, haja vista que esses riscos para o mercado de trabalho estão aumentando devido a um pior equilíbrio entre oferta e demanda”, explica.
Segundo o economista, por outro lado, “há boas chances de que o repique inflacionário causado pelas tarifas possa surpreender para cima nos próximos meses”. “Portanto, entendo que seria mais prudente reforçar a cautela do que contratar uma queda de juros no curtíssimo prazo. No entanto, o discurso de Powell sugere um peso maior para os dados de emprego a serem vistos até a reunião de setembro”, conclui.
O que disse Powell
Em sua fala no Simpósio de Jackson Hole, conferência anual nos EUA que conta com a participação de dirigentes do Fed, Powell não cravou que os juros cairão já no mês que vem, mas indicou que existe essa possibilidade. Por outro lado, o chefe do Fed chamou atenção, ainda, para riscos de uma inflação alta.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores”, afirmou Powell.
Para o presidente do Fed, “essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando”. “E, se esses riscos se materializarem, poderão fazê-lo rapidamente”, disse.
Powell prosseguiu: “Também é possível, no entanto, que a pressão de alta sobre os preços, devido às tarifas, possa estimular uma dinâmica inflacionária mais duradoura, e este é um risco a ser avaliado e administrado”.
“A estabilidade da taxa de desemprego e outras medidas do mercado de trabalho nos permitem prosseguir com cautela ao considerarmos mudanças em nossa política monetária. No entanto, com a política em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar ajustes em nossa postura”, completou o chefe da autoridade monetária norte-americana.
Corte de juros no radar
As declarações do presidente do Federal Reserve indicam que é real a possibilidade de a autoridade monetária iniciar o ciclo de queda da taxa de juros a partir da próxima reunião, nos dias 16 e 17 de setembro.
No fim de julho, o Fed anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece nos dias 16 e 17 de setembro.
O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,7% em julho, na base anual, mesmo resultado registrado em junho. Na comparação mensal, o índice foi de 0,2%, ante 0,3% em junho.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.
Até o fim de 2025, o BC dos EUA tem programadas mais três reuniões de política monetária – em setembro, outubro e dezembro. Nas últimas semanas, ganhou força entre os analistas do mercado a tese de que o Fed deve começar a baixar os juros possivelmente a partir da próxima reunião, no mês que vem.
Na quarta-feira (20/8), a ata da última reunião do Fed apontou que os riscos de inflação são maiores do que as preocupações com o mercado de trabalho norte-americano. No mesmo dia, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a atacar o chefe do Fed, Jerome Powell, cobrando a queda dos juros.
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