A maior parte dos acionistas minoritários da BRF aprovou a proposta de fusão dos negócios da empresa com a Marfrig, de acordo com um comunicado ao mercado divulgado pela companhia no último sábado (2/8). As duas empresas são gigantes do agronegócio brasileiro.
Segundo o comunicado, 71,4% dos acionistas minoritários da BRF aprovaram os termos da fusão com a Marfrig, sem incluir as abstenções.
O resultado indica apoio à conclusão do negócio antes da realização de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) programada para terça-feira (5/8), que discutirá o assunto.
As assembleias das duas empresas sobre a fusão já foram adiadas duas vezes pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De acordo com a autarquia, as duas empresas não haviam apresentado dados e informações suficientes a respeito dos critérios para a definição sobre a troca de ações, um dos pontos cruciais da possível fusão.
Acionistas minoritários alegam que os materiais divulgados tinham apenas projeções e premissas financeiras com tarjas pretas, o que impediria uma avaliação mais detalhada.
A assembleia que estava marcada para o dia 14 de julho foi postergada por mais 21 dias após solicitações apresentadas pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e por um investidor ligado à família fundadora da Sadia.
No último dia 14, a Previ anunciou que concluiu o processo de desinvestimento do plano de previdência privada na BRF, colocando um ponto final no ciclo de mais de 30 anos no ativo.
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Longa novela
Inicialmente, a AGE aconteceria no dia 18 de junho, mas a CVM solicitou mais informações sobre o processo de fusão e adiou o encontro.
Na ocasião, a CVM negou um pedido de cancelamento da assembleia, que havia sido apresentado pela Latache Capital, acionista minoritária da BRF, mas adiou a reunião por 21 dias – contados a partir da entrega das informações solicitadas.
A CMV não identificou elementos que justificassem a suspensão da assembleia, mas pediu esclarecimentos e novas informações sobre a fusão.
Ao apresentar o pedido de suspensão da assembleia, a Latache Capital afirmou que havia problemas como “insuficiência da documentação apresentada”, “ilegalidades na formulação da ordem do dia”, “ausência de independência dos membros de comitês alegadamente independentes”, entre outros.
Cade aprovou a fusão
No início de junho, a área técnica do Cade indicou a aprovação, sem restrições, da fusão.
De acordo com a área técnica do órgão regulatório, a participação conjunta de Marfrig e BRF nos mercados com sobreposição horizontal (em um mesmo segmento) ficaria abaixo de 20% – percentual a partir do qual se considera uma posição dominante – ou acima de 20%, mas abaixo de 50%.
Isso significa, no entendimento do Cade, que não há maiores riscos de um eventual exercício de poder dominante de mercado pelo comprador.
Ainda segundo os técnicos do Cade, a concentração ficaria abaixo de 30% em cadeia (mercados verticalmente integrados), o que afasta a possibilidade de haver prejuízos ao ambiente de concorrência.
A fusão Marfrig-BRF
Marfrig e BRF movimentaram o mercado ao anunciar a fusão de seus negócios, no dia 15 de maio, o que deu origem a um gigante com uma receita líquida consolidada de R$ 152 bilhões nos últimos 12 meses.
Com o nome MBRF Global Foods Company, a nova companhia será detentora de todas as marcas das duas empresas. A Marfrig, segunda maior produtora de carne bovina do mundo e líder na produção de hambúrgueres, propôs a incorporação da totalidade das ações de emissão da BRF, especializada em aves e dona da Sadia e da Perdigão.
A fusão ocorrerá por meio de troca de ações da BRF por papéis da Marfrig, que hoje é a maior sócia da companhia, detendo o controle com 50,49% de participação. Acionistas da BRF vão receber papéis da Marfrig e se tornarão sócios da MBRF Global Foods Company.
A relação de troca prevista na operação é de 0,8521 ação da Marfrig para cada papel da BRF. Ou seja: um investidor que possui 100 ações da BRF terá cerca de 85 papéis da Marfrig depois da conclusão do negócio.
Os acionistas da BRF e da Marfrig devem ser beneficiados com um pagamento significativo de proventos. A BRF vai distribuir até R$ 3,52 bilhões, e a Marfrig, R$ 2,5 bilhões.
Em relação às receitas e custos, a estimativa é alcançar R$ 485 milhões por ano, com expectativa de redução de despesas de R$ 320 milhões anuais.
Caso a fusão seja aprovada pelo Cade, a nova empresa deve tentar fazer a listagem de suas ações nos Estados Unidos, segundo executivos de Marfrig e BRF. A Previ, que conta com cerca de 6% do capital da BRF, e o Salic, o fundo soberano da Arábia Saudita, com 11%, apoiam a transação.
A união entre Marfrig e BRF talvez seja a mais expressiva de uma série recente de fusões do agronegócio, setor que tem impulsionado a economia brasileira nos últimos anos.
Em 2024, houve um aumento de 140% na quantidade de fusões e aquisições no agro, de acordo com dados da KPMG. No ano passado, foram concluídas 12 operações, ante 5 em 2023 e 11 em 2022.
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