O tarifaço comercial imposto pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a grande parte dos produtos importados do Brasil pode gerar um forte prejuízo ao setor de cacau, que ficou de fora da lista de exceções anunciada pela Casa Branca na semana passada.
De acordo com estimativas da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), as perdas do segmento podem chegar a US$ 36 milhões (cerca de R$ 199,5 milhões, pela cotação atual).
Segundo a entidade, a tarifa adicional de 40% estipulada por Trump, somada à taxa de 10% que já havia sido anunciada em abril deste ano, praticamente inviabilizará as exportações do cacau brasileiro aos norte-americanos.
Empresários do setor seguem em contato direto com as autoridades brasileiras para que o governo negocie com os EUA a possível inclusão do cacau na lista de exceções. Até aqui, no entanto, o produto continua taxado em 50%, no total.
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O que diz a associação
Os EUA aparecem em segundo lugar na lista dos países que mais exportam cacau e seus derivados do Brasil, respondendo por 18% dos embarques. No caso da manteiga de cacau, esse percentual é de quase 100%.
No ano passado, ainda segundo os dados da AIPC, as exportações de derivados de cacau somaram US$ 72,7 milhões para os EUA. Entre janeiro e junho de 2025, o valor alcançado foi de US$ 64,8 milhões.
De acordo com a associação, “sem a possibilidade de escoamento, as empresas ficam impossibilitadas de manter a produção em pleno funcionamento, o que amplia significativamente a ociosidade industrial e compromete empregos e investimentos nas regiões produtoras, especialmente na Bahia, no Pará e em São Paulo”.
“A imposição da tarifa também compromete a operação de exportação no âmbito do regime de drawback, que permite a importação de insumos com suspensão de tributos, desde que sejam utilizados para a produção de itens destinados à exportação”, diz a entidade, em nota.
Segundo a AIPC, “a perda do mercado americano inviabiliza o cumprimento de diversos atos concessórios com vencimento entre dezembro de 2025 e março de 2027, gerando insegurança jurídica, risco de multas e aumento expressivo nos custos operacionais”.
Tarifaço e exceções
Na semana passada, o governo dos EUA confirmou a taxação adicional sobre os produtos brasileiros, mas houve centenas de exceções.
Ao todo, 694 itens escaparam do tarifaço de Trump, que assinou uma ordem executiva oficializando a taxa de 50% sobre exportações vindas do Brasil. Entre os produtos isentos da taxa, estão itens como suco e polpa de laranja, minérios de ferro, derivados de petróleo, castanha, carvão, e peças de aeronaves civis.
Até o momento, o Brasil é o país que foi alvo das maiores taxas. Os EUA também instauraram investigação comercial, aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), a pedido de Trump. O governo norte-americano afirma que a análise pretende investigar supostas práticas comerciais desleais do Brasil em relação aos EUA e cita como exemplo as recentes disputas judiciais envolvendo plataformas digitais.
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