Queda do varejo reflete desaceleração da economia, dizem analistas

O recuo nas vendas do varejo brasileiro em julho deste ano reflete a desaceleração da economia do país e deve se intensificar nos próximos meses. A avaliação é de economistas e analistas do mercado consultados nesta quinta-feira (11/9) pela reportagem do Metrópoles.

Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o volume de vendas do comércio varejista registrou queda de 0,3% em julho, na comparação com o mês anterior. Foi o quarto resultado negativo consecutivo do setor.

Ainda segundo o IBGE, a média móvel trimestral repetiu o mesmo resultado, com baixa de 0,3%. Já em relação a julho do ano passado, o volume de vendas do varejo subiu 1%, a quarta alta seguida nessa base de comparação.

No acumulado do ano até julho, o varejo brasileiro teve alta de 1,7%. Em 12 meses, o crescimento foi de 2,5%.

O que diz o mercado

Na avaliação de André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado do comércio varejista em julho “reafirma a tendência de desaceleração no setor, que já acumula quatro meses de queda, puxado, principalmente, pela piora no desempenho de supermercados, grupo com maior peso no índice e que recua pelo quarto mês seguido”. “Assim, vemos que a desaceleração do varejo mais sensível à renda tem sido o principal determinante da desaceleração do setor”, afirma.

“O varejo sensível à crédito, apesar da recuperação em julho, também apresenta sinais de fragilidade. O varejo sensível à crédito avançou 1,08% em julho, mas acumula queda de 4,25% nos últimos 4 meses e queda de 1,32% no ano, enquanto o varejo sensível à renda acumula queda de 0,99% nos últimos 4 meses e alta de 0,52% no ano”, destacou Valério.

“Esperamos para os próximos meses a continuidade dessa tendência de desaceleração, à medida que o aperto monetário implique em continuidade na piora das condições de crédito e o mercado de trabalho comece a perder força na margem”, disse o economista.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, seguiu a mesma linha e afirmou que “os resultados dos últimos meses reforçam nossa análise de que o varejo vem perdendo força ao longo deste ano”. “Os números mais fracos vêm, principalmente, de segmentos sensíveis ao crédito, que são impactados diretamente pela Selic em patamar elevado, como veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos”, avalia.

“Considerando este cenário, nossa projeção é que as vendas no varejo ampliado fechem 2025 com desempenho próximo a zero. Vale lembrar que, no ano passado, o setor cresceu 3,7%”, projetou Moreno.

“O desempenho do varejo nos últimos meses reforça nossa projeção de que a economia brasileira, como um todo, deve crescer menos do que em 2024. Essa perda de fôlego é reflexo dos juros altos, que tendem a impactar os investimentos e o consumo”, prosseguiu a economista.

“Nossa expectativa é que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,5% em 2026, impulsionado pelos estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito.”

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, “a expectativa é de desaceleração no ritmo de expansão do comércio, refletindo a retirada dos estímulos fiscais e de crédito, além dos efeitos ainda presentes da inflação e dos juros elevados”.

“Apesar desse cenário mais desafiador, projetamos que a perda de dinamismo será relativamente moderada. Fatores como o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial ainda robusta devem continuar sustentando o consumo das famílias. Mantemos, assim, a projeção de crescimento de 2% para o setor em 2025”, afirmou.

O economista Maykon Douglas, por sua vez, observa que, “apesar da leitura melhor que o esperado para o varejo ampliado, a composição do resultado é ruim quando consideramos o contexto”. “O comércio mais sensível ao crédito voltou a subir (1,3%), mas esta alta reflete uma base de cálculo mais deprimida, pois o setor sofreu um tombo em junho (-3,1%), que foi pior que o anteriormente divulgado. O segmento de veículos, um dos destaques em julho, teve seu resultado de junho revisado para baixo em 2 pontos percentuais”, destacou.

“Alguns fatores pontuais podem auxiliar o consumo nos próximos meses, como o novo consignado e a liberação dos precatórios. No entanto, o resultado de hoje se soma ao da indústria divulgado na semana passada e mostra um início ruim para o terceiro trimestre, reforçando a desaceleração da atividade doméstica”, concluiu.

Créditos da Noticias

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *