A produção industrial brasileira recuou em julho deste ano, na comparação com o mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (3/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que aconteceu
- Em julho, segundo o levantamento, a produção industrial do país registrou queda de 0,2%, na comparação mensal, na série com ajuste sazonal.
- Em relação ao mesmo período do ano passado, o setor teve uma leve alta de 0,2%.
- No acumulado de 2025 até julho, a produção industrial teve alta de 1,1%.
- No período de 12 meses até julho, o aumento na produção foi de 1,9%.
- Na série com ajuste sazonal, a média móvel trimestral registrou queda de 0,3% no período de três meses encerrado em julho deste ano, na comparação com o mês anterior.
- O resultado da indústria em julho veio praticamente em linha com as estimativas dos analistas do mercado, que eram de queda de 0,2% (mensal) e alta de 0,3% (anual).
Divisão por categorias
De acordo com os dados do IBGE, duas das quatro grandes categorias econômicas e 13 dos 25 segmentos industriais pesquisados tiveram queda na produção em julho.
Entre as atividades monitoradas, a influência negativa mais relevante ficou com a metalurgia (-2,3%), que interrompeu dois meses seguidos de alta na produção.
Também tiveram retração em julho os segmentos de outros equipamentos de transporte (-5,3%), impressão e reprodução de gravações (-11,3%), bebidas (-2,2%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2%), produtos diversos (-3,5%) e produtos de borracha e de material plástico (-1%).
Por outro lado, entre as atividades cuja produção cresceu em julho, houve destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+7,9%), produtos alimentícios (+1,1%), indústrias extrativas (+0,8%) e produtos químicos (+1,8%).
Também houve influências positivas dos segmentos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,6%), máquinas e equipamentos (+1,2%) e celulose, papel e produtos de papel (+0,7%).
Já entre as grandes categorias econômicas, ainda na comparação com o mês anterior, as taxas negativas ficaram com bens de consumo duráveis (-0,5%) e bens de capital (-0,2%). Por outro lado, os setores produtores de bens intermediários (+0,5%) e de bens de consumo semi e não duráveis (+0,1%) subiram no período.
Análise
Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado foi “misto” e veio “em linha com o cenário de condições financeiras mais adversas, além da elevada incerteza causada pelo tarifaço”.
“A perspectiva é a de que continuemos a ver a produção industrial perdendo força na margem, andando de lado até o fim do ano, uma vez que ainda há parte do aperto monetário a ser transmitido para a economia real”, afirma.
“Entretanto, podemos ver a indústria perder força além do esperado a depender do impacto das tarifas americanas sobre o setor, que ainda está bastante exposto mesmo após as isenções já anunciadas. Esse cenário desafiador se manifesta na confiança da indústria, que em agosto caiu para o menor nível desde outubro de 2023”, completa Valério.
Para o economista Maykon Douglas, o desempenho da indústria em julho “basicamente repete o que o PIB do segundo trimestre mostrou: uma alta no setor extrativo, menos cíclica, e uma performance tímida da indústria de transformação, mais sensível às condições financeiras”.
“Essa desaceleração na indústria tem sido disseminada, mas os bens de consumo se sobressaem, com uma queda trimestral anualizada de 11,5%”, afirma o economista.
“Com a leitura de julho, o setor completa quatro meses seguidos sem crescimento. É mais um dado que reforça a desaceleração da atividade doméstica em razão do aperto monetário”, explica.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, avalia que, de forma geral, “seguimos observando sinais de desaceleração gradual da atividade econômica, com os segmentos menos sensíveis ao ciclo, como a indústria extrativa, compensando ao longo do ano os desafios estruturais enfrentados pela indústria de transformação”.
“Para 2025, projetamos um crescimento de 2% na produção industrial brasileira. Apesar dos desafios impostos pela desaceleração da economia global e pelo prolongado período de juros elevados, acreditamos que a retração será moderada”, projeta. “Fatores como uma balança comercial sólida e políticas governamentais de estímulo à atividade econômica devem contribuir para mitigar os impactos negativos sobre o setor.”
Leave a Reply