Mercado minimiza recorde do setor de serviços e projeta desaceleração

Apesar de o desempenho do setor de serviços no Brasil ter registrado um novo patamar recorde em junho deste ano e superado as estimativas iniciais, o resultado não foi tão positivo quanto parece e há perspectiva de desaceleração à frente. É o que afirmam economistas e analistas do mercado consultados nesta quinta-feira (14/8) pela reportagem do Metrópoles, pouco depois do anúncio dos dados.

O volume de serviços no país avançou 0,3% em junho, no quinto resultado positivo em sequência. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 3%. O resultado foi puxado pelos serviços de transportes, únicos a crescerem no mês, com alta de 1,5%.

Com isso, o setor acumula ganho de 2% desde fevereiro e renova o ponto mais alto da série, alcançado em outubro de 2024. Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No recorte regional, 11 das 27 unidades da Federação assinalaram expansão no volume de serviços em junho, na comparação com maio, acompanhando o crescimento observado no resultado nacional (0,3%).

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Sem tanto otimismo

André Valério, economista sênior do Banco Inter, lembrou que, apesar do resultado geral positivo em junho, apenas o grupo de transportes apresentou variação positiva, de 1,5%, puxando o resultado do setor como um todo.

“No geral, vemos um desempenho bem negativo. Serviços prestados às famílias recuaram 1,4% no mês, terceiro mês consecutivo de queda, crescendo apenas 0,4% no 2º trimestre, sugerindo uma desaceleração na demanda por serviços. Além disso, serviços de informação e comunicação recuaram 0,2%, sugerindo também uma desaceleração pelo lado da oferta, mas com o setor ainda mantendo crescimento robusto no 2º trimestre”, afirma.

Segundo Valério, “o resultado sugere que o setor ainda mantém uma robustez em seu ritmo de crescimento, devendo ser o principal fator de crescimento no resultado do PIB do 2º trimestre, tendo acumulado alta de 1,1% no período, frente ao 1º trimestre”.

“No entanto, a direção apontada pelo desempenho na margem é de desaceleração nos próximos meses. O resultado agregado de junho esconde um desempenho fraco generalizado, sugerindo que as condições financeiras mais adversas impactam tanto a demanda quanto a oferta de serviços”, pondera.

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, o resultado veio um pouco acima do esperado “e reforça a resiliência do principal setor da economia brasileira no segundo trimestre”.

“A atividade econômica brasileira mantém bom desempenho, sustentada por um mercado de trabalho em pleno emprego e pela massa salarial, ambos nos melhores níveis da história. A economia segue aquecida, mas desacelerando gradualmente. Para os próximos trimestres, esperamos que a combinação de inflação persistente, juros elevados e deterioração das condições financeiras resulte em uma desaceleração mais nítida”, projeta Cadilhac.

O economista Maykon Douglas, por sua vez, também avalia que, apesar de ter superado as estimativas, o resultado do setor de serviços em junho “não foi bom”.

“A alta se concentrou apenas nos transportes, em que a parte de armazenagem (maior variação ante a leitura anterior) vinha de duas quedas consecutivas. A difusão média nos últimos três meses ficou abaixo da média histórica pela primeira vez em quatro meses, ou seja, os bons resultados do setor têm sido menos disseminados”, explica.

Segundo Maykon, “a leitura de hoje sugere que o setor está mais resiliente que o varejo, cuja parte mais sensível ao crédito tem performado mal”. “No entanto, há sinais de moderação mais evidentes, sobretudo nos serviços prestados às famílias, que pesam mais no PIB do que na PMS”, concluiu.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, tem uma visão um pouco mais otimista. Segundo ela, “o resultado visto nos últimos meses indica que os serviços seguem resilientes e devem manter um bom ritmo de crescimento em 2025”. “Acreditamos que o setor deve terminar o ano com expansão próximo a 3%, impulsionado principalmente pelos estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito”, afirma.

“Ainda que os serviços tenham superado as expectativas nos últimos meses, os dados de atividade de outros setores, como indústria e varejo, indicam que a economia brasileira como um todo está em processo de desaceleração e deve crescer menos do que em 2024. Essa perda de fôlego é reflexo dos juros mais altos, que tendem a impactar os investimentos e o consumo”, pondera Moreno.

Créditos da Noticias

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