A inflação nos Estados Unidos em junho deste ano teve uma ligeira aceleração em relação ao mês anterior e veio dentro da estimativa dos analistas do mercado, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (15/7) pelo Departamento do Trabalho.
O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,7% em junho, na base anual, ante 2,4% registrados em maio.
Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%, ante 0,1% em maio.
Os resultados da inflação nos EUA vieram em linha com os prognósticos do mercado. A média das estimativas era de 2,6% (anual) e 0,3% (mensal).
Taxa de juros
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.
Em sua última reunião, nos dias 17 e 18 de junho, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.
A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece na semana que vem, nos dias 29 e 30 de julho.
Presidente do Fed pediu cautela
No início de julho, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a taxa básica de juros no país já teria sido reduzida pela autoridade monetária caso o governo do presidente norte-americano Donald Trump não tivesse aplicado uma série de tarifas comerciais contra mais de uma centena de países – que acabam pressionando a inflação norte-americana.
As declarações de Powell foram dadas em Sintra (Portugal), durante um fórum promovido pelo Banco Central Europeu (BCE).
“Se você ignorar as tarifas por um segundo, a inflação está se comportando exatamente como esperávamos e tínhamos esperanças de acontecer”, afirmou o presidente do Fed.
Nas últimas semanas, diretores do Fed indicaram que o BC norte-americano poderia avaliar o início do ciclo de queda dos juros já a partir da próxima reunião do Fomc. Falando recentemente na Câmara dos Deputados e no Senado dos EUA, no entanto, Powell adotou um discurso bem mais comedido.
“Nós ainda não vimos muitos efeitos das tarifas, mas não esperávamos que elas se manifestassem neste momento”, prosseguiu Powell. “Estamos esperando uma inflação um pouco maior no verão, mas ela pode aumentar ou diminuir mais rápido do que o previsto. Ela pode vir mais tarde ou mais cedo do que esperávamos.”
Em seu discurso no evento em Portugal, Powell voltou a defender cautela e prudência do Fed para decidir sobre a trajetória dos juros nos EUA.
“Nós decidimos esperar enquanto a economia dos EUA está em boa posição. A coisa mais prudente a se fazer é esperar e ver quais serão os efeitos”, disse o chefe da autoridade monetária.
Análise
Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, “ainda não há sinais significativos de repasse tarifário, mas nota-se uma aceleração na inflação de bens, que alcançou o maior valor desde fevereiro”.
“A inflação de bens foi puxada, principalmente, por itens como utensílios domésticos, de consumo discricionário e de vestuário, itens tipicamente com alta participação de importados na sua oferta. Por outro lado, veículos e peças continuam apresentando deflação, possivelmente por conta da formação de estoque pré-tarifas. Finalmente, a inflação de habitação continua perdendo força, contribuindo para uma inflação de serviços menos intensa”, analisa o economista.
“A leitura de inflação de junho é um pouco mais do mesmo, porém dificulta a decisão do Fed e praticamente elimina a possibilidade de um corte na próxima reunião do dia 30. Por um lado, o resultado em linha com o esperado e ainda acomodado, com dois meses de tarifas em vigor, é uma boa notícia. Porém, nota-se uma reinflação de bens que pode ser o início de um repasse tarifário. Com isso, aumenta o risco de um repasse tardio para os preços, com a inflação atual sendo reflexo de queima de estoque dos produtores à preços antigos”, explica Valério.
“Além disso, com a retomada das tarifas após o prazo de 90 dias, muitas delas no mesmo nível anunciado no dia 2 de abril, não se pode descartar uma nova rodada de aumento nos preços mais à frente. Sendo assim, esperamos que o Fed mantenha a taxa de juros no atual patamar na reunião no fim deste mês. A retomada do ciclo de queda de juros na reunião de setembro ainda é o cenário mais provável, condicionado a não haver repasse inflacionário das tarifas ou ao mercado de trabalho deteriorar significativamente nas próximas duas leituras.”
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