A divulgação dos dados oficiais de inflação no Brasil referentes ao mês de junho, nesta quinta-feira (10/7), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçaram a posição do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros em um patamar elevado por mais tempo.
É o que afirmam economistas e analistas do mercado financeiro consultados pela reportagem do Metrópoles nesta manhã. Mais cedo, o IBGE informou que os preços de bens e serviços do país avançaram 0,24% em junho — o que representa um recuo de 0,02 ponto percentual em comparação a maio (0,26%). Em 12 meses até junho, a inflação acumula alta de 5,35%, confirmando o estouro da meta em 2025.
A meta para 2025 é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, com piso de 1,5% e teto de 4,5%, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.
É a primeira vez que a meta será descumprida no novo regime, que utiliza o acumulado de 12 meses, chamado de meta contínua. Se o acumulado ficar acima do fixado por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Com o descumprimento da meta, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao titular da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional, o ministro Fernando Haddad (PT).
No texto, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, terá de expor as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária é responsável pelo controle da inflação, por meio da taxa de juros, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias.
A elevação da taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, o maior patamar para os juros no Brasil em quase duas décadas, desde 2006.
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Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país
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Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda
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Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum deles
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No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileiras
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De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externas
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No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moeda
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No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outros
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Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricas
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Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação – quando o controle de todos os preços é perdido
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O que diz o mercado
Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado do IPCA em junho “confirma a expectativa de acomodação da inflação, influenciado principalmente pela reversão da inflação de alimentos”.
“Para os próximos meses, esperamos continuidade dessa acomodação, com boa parte do recuo do câmbio observado neste ano ainda a ser repassada para os bens industriais e livres, que já se mostram bastante acomodados”, afirma Valério.
“Além disso, o aperto monetário empreendido pelo Copom ainda não foi totalmente repassado para a atividade real, também devendo ser uma força deflacionária no segundo semestre. Com o Copom tendo finalizado o atual ciclo de alta, o resultado de hoje não tem tanta influência”, explica o economista.
De acordo com Valério, “para o início do ciclo de cortes dos juros, serão necessárias novas leituras nessa direção, com a continuidade da melhora do qualitativo, mas, principalmente, sinais de que a atividade e o mercado de trabalho estão sentindo os efeitos dos juros”.
“Esperamos que esses sinais sejam mais evidentes ao longo do 3º e do 4º trimestre, potencialmente criando condições para o Copom iniciar o ciclo de cortes na reunião de dezembro”, avalia.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que “o cenário segue bastante desafiador, principalmente se olharmos para os serviços subjacentes, que excluem itens mais voláteis e acumulam alta de 6,8% em 12 meses”.
“Ainda que a queda nos preços das commodities e o enfraquecimento do dólar possam aliviar temporariamente a pressão sobre os alimentos e bens industriais, fatores domésticos, como o mercado de trabalho aquecido, devem continuar pesando sobre a inflação. Nossa projeção é de que o IPCA feche o ano em 5%”, projeta.
“Para os próximos meses, esperamos que o Copom mantenha os juros estáveis em 15%. As últimas comunicações do BC reforçam nossa expectativa de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026”, completa Moreno.
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, “qualitativamente o resultado foi misto, mas pior do que o esperado”. “Por um lado, os bens industriais vieram menos pressionados. Por outro, tanto os serviços quanto os alimentos mostraram-se consideravelmente mais salgados”, diz.
“Dessa forma, as principais métricas de núcleos permanecem elevadas, reforçando a necessidade de uma política monetária restritiva, com a Selic mantida em 15% até o final do ano”, projeta o economista.
“Olhando à frente, revisamos nossa projeção de inflação para 2025 de 5,3% para 5,1%. Essa revisão reflete, principalmente, três fatores: persistência dos efeitos deflacionários da guerra tarifária, especialmente via câmbio; melhora nas expectativas de inflação, ambos positivamente influenciados pela elevação de 25 pontos-base na Selic na última reunião; e alívio nos preços das commodities e dos itens administrados”, explica Cadilhac.
“Apesar da revisão, o qualitativo e o balanço de riscos permanecem significativamente pressionados. Além disso, seguimos atentos às pressões altistas, associadas à desancoragem das expectativas, à manutenção de um hiato do produto positivo e à eventual depreciação do real em um cenário de maior percepção de risco fiscal e/ou geopolítico”, conclui.
O economista Maykon Douglas, por sua vez, aponta que o IPCA de junho “trouxe alguns sinais mistos, com variação levemente acima do esperado, ao contrário da surpresa baixista registrada nos últimos dados de inflação”.
“No entanto, a composição do número foi boa. Ainda longe da meta e com desinflação mais lenta que o desejado, mas o dado reforça um comportamento melhor que o observado nos últimos meses”, afirma.
“Para fins de política monetária, nada muda no curto prazo. Há importantes riscos a se monitorar, com a adição da tarifa de 50% aos produtos brasileiros proposta ontem pelo governo Trump. A ver se haverá espaço para reversão parcial desse movimento. Em resumo, o BC brasileiro precisa manter os juros no atual patamar, possivelmente até o fim do primeiro trimestre de 2026.”
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