Filha de Dácio Oliveira, criador e um dos donos das marcas de roupas Siberian e Crawford, Stephanie Saraiva está iniciando uma guerra judicial contra seus pais, os dois irmãos e um tio. Isso porque ela afirma ter descoberto indícios de que seus parentes lhe ocultaram um patrimônio estimado em mais de R$ 500 milhões.
A fortuna inclui, segundo Stephanie, quotas societárias em empresas, além de mais de 208 imóveis em cidades como São Paulo, Londres, Miami e Nova York. Toda a briga é resultado de um desentendimento familiar que encorpou com o tempo até assumir, nas últimas semanas, contornos de pancadaria explícita.
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O marido de Stephanie, Jorge Saraiva Neto, ex-CEO da livraria Saraiva — cuja falência foi decretada em 2023 —, foi à polícia em meados de agosto fazer um boletim de ocorrência no qual acusou Dilson Oliveira, tio da esposa e sócio da Siberian e Crawford, de tê-lo atingido com um soco no olho num corredor do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, na noite de sábado (9/8). Ele disse que foi agredido quando a mulher tentava visitar a avó, Valdivina Pereira de Aguiar, internada no luxuoso centro médico paulistano.
Acusação contra o pai
Stephanie encaminhou à Justiça, na semana passada, um pedido antecipado de produção de provas no qual afirma que mantém uma relação “marcada por recentes (e frequentes) desentendimentos” com os pais, mas acreditava que os problemas eram “passíveis de superação com o tempo”.
Ela narra, contudo, que a situação piorou depois que descobriu que o pai supostamente havia aberto mais de “duas dezenas de contas correntes em seu nome”. Isso teria ocorrido por meio de uma “antiga procuração”. Stephanie relata ao tribunal que, quando questionado sobre o problema, o pai “agiu, como sempre o fez, com agressividade e prepotência, alijando a filha de qualquer relação, contato ou informação relacionada à família”.
Depois disso, ela acrescenta na ação que passou a realizar pesquisas para verificar não apenas a sua situação econômica diante do que define como “devaneio paterno”, mas, também, a dos dois irmãos e, por fim, a dos pais.
Nesse momento, Stephanie afirma ter constatado que seus pais, Dácio e Aurora, “doaram diversos bens imóveis e quotas societárias” aos seus dois irmãos, Dácio Antônio Gutierrez Oliveira e Stefano Gutierrez Oliveira, em clara suspeita de dissipação patrimonial”, conclui o documento, assinado pelo advogado Marcelo Baptista da Costa.
Imóveis de luxo e no exterior
A lista de bens inclui 208 imóveis. Da relação brasileira, há, por exemplo, duas casas em áreas nobres da capital paulista, como Cidade Jardim e outra na Chácara Flora. A relação de endereços internacionais, no entanto, é mais longa.
Ela abrange um apartamento ao lado do Central Park, em Nova York, avaliado em US$ 5 milhões, outro em Miami, na Flórida, com preço estimado em US$ 12 milhões, além de três imóveis em Londres, cujo valor conjunto, segundo o pedido de produção antecipado de provas, chega a US$ 4,7 milhões.
Nas pesquisas, Stephanie acrescenta que tomou conhecimento de uma “intensa movimentação patrimonial e financeira realizada no exterior”, a partir de 2024, numa sociedade anônima denominada Helston Properties, com sede no Panamá, na qual seu pai seria presidente e seus dois irmãos, diretores.
Bitcoins
Além disso, às vésperas do suposto ingresso dos parentes nessa empresa panamenha, menciona a ação judicial, “constatou-se, igualmente, transferências milionárias realizadas em BTC – Bitcoin, para a carteira (wallet, no jargão do setor de criptoativos) de um dos irmãos de Stephanie.
O pedido encaminhado à Justiça menciona ainda outras participações societárias no exterior, como na empresa VDD Corporation Limited, de Londres. Em 31 de dezembro de 2023, essa companhia teria indicado uma reserva de capital de mais 10 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 13,5 milhões) e ativo circulante superior a 54 milhões de libras esterlinas (perto de US$ 73 milhões).
Empresas no Brasil
No pedido de antecipação de provas, Stephanie e seus advogados indicam ainda uma suposta participação do pai em empresas no Brasil, além da VGB. Agora, a filha do criador do VGB pede à Justiça que sejam obtidas informações sobre o patrimônio familiar junto à Receita Federal (dados sobre as declarações de Imposto de Renda dos parentes), ao Banco Central (contas correntes) e à Polícia Federal (dados sobre a entrada e saída das pessoas para comprovação de domicílio).
Recuperação judicial
A disputa interna, porém, não é o único entrave envolvendo os negócios da família. Em 2021, o grupo VGB, que é o dono das marcas Siberian e Crawford, pediu recuperação judicial (RJ) com dívidas então estimadas em pouco mais de R$ 450 milhões.
Na semana passada, a Deloitte, que é a administradora judicial da RJ do VGB, enviou à Justiça paulista um relatório que, na prática, indica uma mudança de status do processo. Ela aponta que a empresa pode já não ser viável e indica a necessidade de mudança de status no processo de recuperação judicial (RJ) para falência.
A reportagem do Metrópoles fez contato com representantes das empresas do VGB, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
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