As exportações brasileiras de alimentos industrializados somaram US$ 5,9 bilhões em agosto, queda de 4,8% em relação a julho (US$ 6,2 bilhões) e de 1% frente a agosto de 2024. O desempenho contrasta com o pico registrado em julho, impulsionado pela antecipação de embarques aos Estados Unidos antes da entrada em vigor da tarifa adicional de 50%. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (18/9) e fazem parte da pesquisa conjuntural realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).
“O desempenho das exportações nos dois últimos meses evidencia uma inflexão clara: o crescimento expressivo de julho foi seguido por ajuste em agosto, sobretudo nos EUA, impactados pela nova tarifa, enquanto a China reforçou seu papel como mercado âncora”, analisa João Dornellas, presidente executivo da Abia.
Leia também
-
Tarifaço de Trump derruba exportações de calçados brasileiros para EUA
-
Tarifaço: exportações brasileiras para os EUA caem 18,5% em agosto
-
Com tarifaço, exportações de café do Brasil para os EUA caem quase 50%
-
Tarifaço: pela 1ª vez em 2 anos, indústria espera queda em exportações
No caso chinês, o país asiático consolidou sua liderança como principal destino das exportações de industrializados em agosto, com US$ 1,32 bilhão, alta de 10,9% em relação a julho e expressivos 51% frente a agosto de 2024.
Em julho, os EUA haviam importado US$ 460,1 milhões em alimentos industrializados do Brasil, alta de 26,2% frente a julho de 2024, com destaque para suco de laranja, proteínas animais e óleos e gorduras.
Em agosto, já sob efeito da tarifa de 50%, os embarques para o mercado americano recuaram. Eles chegaram a US$ 332,7 milhões (-27,7% em relação a julho e -19,9% na comparação anual), reduzindo a participação dos EUA no total exportado pelo setor de 7,4% para 7%.
“O resultado das exportações para os EUA em agosto reforça a necessidade de diversificação de mercados e da manutenção ativa das negociações, com o objetivo de não apenas mitigar impactos conjunturais, mas também assegurar condições mais previsíveis e competitivas de acesso ao mercado americano”, afirma Dornellas.
Produtos mais afetados
A análise dos produtos mais afetados mostra que o tarifaço atingiu diretamente segmentos centrais da pauta de exportações de alimentos para os EUA. A queda mais acentuada foi registrada nos açúcares (-82,3% em relação a agosto de 2024 e -69,5% ante julho), praticamente anulando as vendas no período.
Proteínas animais, segundo item mais relevante, sofreram forte baque (-43,3% na comparação anual e -45,8% ante julho), refletindo perda de competitividade diante do novo custo de acesso ao mercado americano. Preparações alimentícias também recuaram (-37,5% em relação a julho), embora tenham apresentado alta interanual de +13,5%, sinalizando volatilidade.
Exceções
Duas exceções merecem destaque. O suco de laranja, que ficou fora da sobretaxa de 50%, caiu -11% frente a julho, mas cresceu 6,8% em relação a agosto de 2024. A queda mensal não está associada à tarifa, mas à antecipação dos embarques em julho, quando exportadores buscaram se adiantar à medida. Já o grupo de óleos e gorduras mostrou resiliência, com alta de 30% na comparação anual e avanço de 1,8% ante julho, atenuando em parte o recuo dos demais segmentos.
A Abia estima que as vendas de alimentos atingidos pelo tarifaço para o mercado americano podem cair até 80% entre agosto e dezembro, o que representaria uma perda de US$ 1,351 bilhão. “Essa premissa considera que a elevação tarifária recai sobre produtos com alta sensibilidade ao preço final, baixa margem de absorção de custos e forte concorrência internacional “, diz Dornellas.
Leave a Reply