O dólar operava em alta nesta terça-feira (19/8), em um dia de agenda econômica esvaziada tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Os investidores concentram as atenções em falas da vice-presidente de Supervisão do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Michelle Bowman, e do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB).
O mercado também acompanha os desdobramentos da nova tensão entre Brasil e EUA, após a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de que nenhuma empresa ou órgão com atuação no país poderá aplicar restrições ou bloqueios baseados em determinação unilateral de outras nações.
Dólar
- Às 11h03, o dólar subia 0,6%, a R$ 5,467.
- Mais cedo, às 10h15, a moeda norte-americana avançava 0,69% e era negociada a R$ 5,472.
- Na cotação máxima do dia até aqui, o dólar bateu R$ 5,49. A mínima é de R$ 5,431.
- Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,68%, cotado a R$ 5,435.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 2,96% em agosto e de 12,05% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava em queda firme no pregão.
- Às 11h07, o Ibovespa recuava 1,58%, aos 135,1 mil pontos.
- No dia anterior, o indicador fechou o pregão em alta de 0,72%, aos 137,3 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 3,19% no mês e de 14,17% no ano.
Tensão entre Brasil e EUA
Nessa segunda-feira (18/8), o Departamento de Estado do governo norte-americano usou as redes sociais para responder ao ministro Flávio Dino, do STF, após decisão do magistrado de que nenhuma empresa com atuação no Brasil poderá aplicar restrições ou bloqueios baseados em determinação unilateral de outros países.
Em publicação no X (antigo Twitter), o Escritório de Assuntos do Ocidente afirmou que nenhum tribunal estrangeiro pode anular sanções impostas pelos EUA ou proteger alguém das severas consequências de descumpri-las. O comunicado ainda fez um ataque direto ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Dino decidiu que nenhuma empresa ou órgão com atuação no Brasil poderá aplicar restrições ou bloqueios baseados em determinações unilaterais de outros países, reforçando que apenas o Judiciário brasileiro tem competência para validar medidas desse tipo.
A decisão ocorre em meio ao movimento de municípios brasileiros que recorreram a tribunais estrangeiros em busca de indenizações maiores contra a mineradora Samarco, após o rompimento da barragem de Mariana (MG).
“Desse modo, ficam vedadas imposições, restrições de direitos ou instrumentos de coerção executados por pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país, bem como aquelas que tenham filial ou qualquer atividade profissional, comercial ou de intermediação no mercado brasileiro, decorrentes de determinações constantes em atos unilaterais estrangeiros”, anotou Dino.
Em tese, a decisão de Dino reforça a soberania da jurisdição brasileira, impedindo que medidas estrangeiras – como as sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes, baseadas na Lei Magnitsky – tenham efeito automático no Brasil. No entanto, essas restrições seguem válidas no exterior.
Moraes foi alvo da legislação norte-americana que tem como objetivo punir autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos. O governo de Donald Trump citou o processo em curso no STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se tornou réu por suposta tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022. Na ocasião, o líder dos EUA acusou a Justiça brasileira de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Discurso no Fed
No cenário externo, o mercado financeiro monitora as declarações da vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, que participará nesta terça-feira de um evento no estado de Wyoming (EUA).
Bowman, que integra a diretoria do Fed, deve falar sobre as perspectivas econômicas do país, e os investidores aguardam possíveis sinais a respeito da trajetória da taxa básica de juros.
Em sua última reunião, no fim de julho, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece nos dias 16 e 17 de setembro.
O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,7% em julho, na base anual, mesmo resultado registrado em junho. Na comparação mensal, o índice foi de 0,2%, ante 0,3% em junho.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.
Até o fim de 2025, o BC dos EUA tem programadas mais três reuniões de política monetária – em setembro, outubro e dezembro. Nas últimas semanas, ganhou força entre os analistas do mercado a tese de que o Fed deve começar a baixar os juros possivelmente a partir da próxima reunião, no mês que vem.
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Nesta semana, as atenções do mercado estão voltadas ao Simpósio de Jackson Hole, conferência anual nos EUA que conta com a participação de dirigentes do Fed, incluindo o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell. O evento começa na quinta-feira (21/8).
O Simpósio de Política Econômica do Fed acontece na região de Jackson Hole, em Wyoming. Trata-se de uma conferência promovida pela unidade regional de Kansas City do Fed sempre no fim das férias de verão.
Alckmin em São Paulo
No cenário doméstico, o destaque fica por conta da participação do vice-presidente Geraldo Alckmin em uma conferência promovida por um banco, em São Paulo.
A expectativa dos investidores é a de que o Alckmin fale sobre o andamento das negociações com os EUA envolvendo o tarifaço comercial de 50% imposto pelo governo norte-americano a grande parte dos produtos importados do Brasil.
Na véspera, também participando de um evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que a postura do governo do presidente norte-americano Donald Trump tem prejudicado as negociações comerciais entre os dois países.
Haddad disse que as negociações entre Brasil e EUA não avançaram até o momento porque os norte-americanos querem impor uma solução que seria “constitucionalmente impossível” de se concretizar. Para o ministro da Fazenda, a tendência é a de que o comércio bilateral entre os dois países caia ainda mais nos próximos meses.
“A negociação só não ocorre porque os EUA querem que atuemos contra a Constituição, de o Executivo se imiscuir em decisões do Judiciário”, afirmou Haddad. “Com os últimos acontecimentos envolvendo os dois países, o comércio bilateral entre as nações pode diminuir ainda mais”, completou.
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