Depois de abrir em alta, o dólar operava em queda nesta segunda-feira (23/6), em uma semana que deve ser marcada pela tensão nos mercados em função da escalada da guerra entre Israel e Irã no Oriente Médio, que agora entrou em um novo patamar.
Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, nesse fim de semana, os investidores passaram a monitorar uma possível reação do regime iraniano.
Outra preocupação envolve a disparada nos preços internacionais do petróleo, que já vinham em alta desde o início do conflito entre israelenses e iranianos.
Dólar
- Às 14h32, o dólar caía 0,35%, a R$ 5,506.
- Mais cedo, às 12h29, a moeda norte-americana recuava 0,43% e era negociada a R$ 5,501.
- Na última sexta-feira (20/6), o dólar fechou em alta de 0,45%, cotado a R$ 5,525.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 3,38% em junho e de 10,6% em 2025.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), também operava em queda.
- Às 14h37, o Ibovespa recuava 0,81%, aos 136 mil pontos.
- No último pregão da semana passada, o indicador afundou 1,15%, aos 137,1 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 0,07% no mês e de 13,99% no ano.
Trump entra na guerra
Tropas dos EUA bombardearam três instalações nucleares no Irã no sábado (21/6). A ação norte-americana foi parabenizada pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por uma decisão “ousada”.
Um dos locais bombardeados foi a usina de Fordow, com capacidade para operar 3 mil centrífugas para enriquecimento de urânio, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Ao longo dos últimos anos, Netanyahu tentou apoio dos EUA para tentar pôr fim ao programa nuclear do Irã. Segundo ele, a medida seria para evitar que o país persa fabricasse uma bomba atômica.
Depois da ação norte-americana, aliados do Irã, como os Houthis, no Iêmen, ameaçam atacar navios dos EUA no Mar Vermelho caso a potência persista na guerra.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse, nesse domingo (22/6), que o país persa não vai se render e que não teme as ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Ele [Trump] ameaça e, com uma declaração ridícula e inaceitável, pede explicitamente à nação iraniana que venha e se renda a mim. Quando uma pessoa observa essas coisas, fica verdadeiramente surpresa. […] Dizer à nação iraniana para se render não é uma atitude sensata. Pessoas inteligentes que conhecem o Irã, conhecem a nação iraniana, conhecem a história do Irã, jamais diriam tal coisa. Render-se a quê? A nação iraniana não é de se render”, enfatizou Khamenei.
O aiatolá do Irã indicou ainda que a ação militar dos EUA pode trazer “danos irreparáveis” aos próprios norte-americanos. “O que eles sofrerão nesse sentido é muito maior do que o que o Irã pode sofrer. O dano que os EUA sofrerão se entrarem militarmente neste campo será, sem dúvida, irreparável.”
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Nesta segunda-feira, Trump usou sua rede Truth Social para comemorar a precisão dos ataques norte-americanos.
“Danos monumentais foram causados a todas as instalações nucleares do Irã, como mostram imagens de satélite. Obliteração é um termo preciso. A estrutura branca mostrada está profundamente incrustada na rocha, com até mesmo seu teto bem abaixo do nível do solo e completamente protegido das chamas”, escreveu Trump.
Destacando a consquista norte-americana, Trump ainda afirmou que os maiores danos ocorreram bem abaixo do nível do solo. “Na mosca”, comemorou.
Fechamento de Ormuz
No domingo, o Parlamento do Irã votou pelo fechamento do Estreito de Ormuz, em resposta aos ataques dos EUA contra o país. A decisão ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo líder supremo Ali Khamenei.
O Estreito de Ormuz é um ponto estratégico no Golfo Pérsico, controlado pelo Irã e fundamental para o comércio da região. Passa por ali cerca de 21% de todo o petróleo do planeta.
O parlamentar iraniano Seyyed Ali Yazdi Khah afirmou que os adversários devem saber que o país possui muitas opções e que, se necessário, as utilizará. De acordo com o jornal Mehr, Teerã poderá fechar a rota estratégica para proteger seus interesses nacionais.
De acordo com a PressTV, o parlamentar iraniano Esmaeil Kowsari defendeu o fechamento da principal rota marítima do Golfo Pérsico, que é essencial para a exportação de petróleo da maioria dos países da região.
Nos últimos anos, países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos aumentaram o transporte por meio de oleodutos. Mesmo assim, desvios pontuais do fluxo convencional do petróleo não seriam suficientes para evitar uma grave desorganização da cadeia.
Segundo relatório da seguradora holandesa ING, uma interrupção significativa nesses fluxos “seria suficiente para elevar os preços para US$ 120 o barril”. “Se isso persistir até o fim do ano, poderemos ver o [petróleo do tipo] brent atingir novas máximas, acima do recorde de quase US$ 150 em 2018”, diz o documento.
Nas últimas semanas, antes mesmo dos ataques israelenses a Teerã, um número cada vez maior de embarcações tem evitado o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. A autoridade marítima do Reino Unido (UKMTO) emitiu uma série de alertas a respeito do “aumento das tensões na região, o que pode levar a uma escalada da atividade militar, com impacto direto sobre os marinheiros”. Segundo o órgão, “os navios são aconselhados a cruzar o Golfo Pérsico, o Golfo de Omã e o Estreito de Ormuz com cautela”.
Ásia fecha sem direção. Petróleo sobe
Os principais índices das bolsas de valores da Ásia fecharam o pregão desta segunda-feira sem direção única, com os investidores repercutindo a entrada dos EUA na guerra.
Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei terminou o dia em baixa de 0,13%, aos 38,3 mil pontos.
Em Seul, na Coreia do Sul, o índice Kospi teve perdas de 0,24%, aos 3 mil pontos.
Em Hong Kong, o Hang Seng fechou em alta de 0,67%, aos 23,6 mil pontos.
Na China continental, o Xangai Composto registrou ganhos de 0,65%, aos 3,3 mil pontos.
Entre as principais empresas, o destaque do primeiro pregão da semana ficou por conta de gigantes estatais chinesas de petróleo, como a Cnooc, com alta de 0,9%, e a Sinopec, que subiu 0,25%, ambas beneficiadas pela alta dos preços internacionais do petróleo.
Com a escalada do conflito, a cotação do petróleo avançava nesta manhã. Pouco depois das 8 horas (pelo horário de Brasília), o preço do barril de petróleo do tipo Brent (referência para o mercado internacional) subia 0,88%, a US$ 77,69.
Já o barril do tipo WTI (referência para o mercado norte-americano) avançava 0,91%, cotado a US$ 74,51.
Análise
Para Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, os mercados estão apreensivos após a entrada dos EUA na guerra.
“O que pode acontecer de pior é o Estreito de Ormuz ser fechado. Ali, 30% do petróleo do mundo tem que passar. Se isso ocorrer, o barril de petróleo pode estourar os US$ 150”, avalia.
“Sinceramente, não acredito que o Irã tenha poderio bélico para conseguir bater de frente com Israel e os EUA. Porém, isso pode realmente ter como consequência reativar células terroristas espalhadas pelo mundo que estariam paradas, desativadas. Eles têm esse histórico de ataques em pontos históricos do Ocidente”, prossegue Correia.
“É isso que eu enxergo como o pior cenário. O melhor cenário seria realmente o Irã ceder, algo difícil de se imaginar”, completa.
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