O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira (10/9) em queda, enquanto a Bolsa de Valores do Brasil (B3) fechou o pregão em alta, em um dia no qual os investidores repercutiram o noticiário político nacional e também estiveram atentos a dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos.
Dólar
- Nesta quarta-feira, o dólar fechou em baixa de 0,53%, cotado a R$ 5,407.
- Na cotação máxima do dia, a moeda norte-americana bateu R$ 5,439. A mínima foi de R$ 5,399.
- Na véspera, o dólar avançou 0,35%, negociado a R$ 5,435.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 0,27% no mês e de 12,57% no ano frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da B3, fechou o pregão em alta de 0,52%, aos 142,3 mil pontos.
- Na pontuação máxima desta quarta, o indicador chegou aos 143,1 mil pontos. A mínima foi de 141,6 mil pontos.
- No dia anterior, o Ibovespa recuou 0,12%, aos 141,6 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula valorização de 0,67% em setembro e de 18,27% em 2025.
Voto de Fux no STF anima bolsonaristas
No cenário doméstico, as atenções do mercado estiveram novamente voltadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Eles são acusados de uma suposta tentativa de golpe de Estado no país, em 2022.
Depois dos votos dos ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, na terça-feira (9/9), ambos favoráveis às condenações dos réus, a sessão desta quarta foi reservada à manifestação do ministro Luiz Fux, que foi em sentido oposto ao dos colegas.
Em seu voto, Fux disse que “não se pode banalizar o conceito de organização criminosa”. O magistrado discordou também que os réus tivessem cometido o crime de deterioração do patrimônio tombado.
Ainda de acordo com Fux, não há golpe de Estado sem deposição de governo. “Não constitui crime previsto na abolição violenta a manifestação crítica aos Poderes constitucionais. [Voto] Afastando qualquer pretensão de punir como atentados ao Estado democrático bravatas, como foi dito aqui no interrogatório. Bravatas proferidas por agentes políticos contra membros de outros Poderes, ainda que extremamente reprováveis”, anotou o ministro do STF.
Fux derrubou o crime de organização criminosa armada, alegando que, no caso, deveriam ter sido usadas armas de fogo – fato não relatado pelo Ministério Público. Além disso, segundo o ministro, a denúncia não narrou em qualquer trecho que os réus pretendiam praticar delitos reiterados, de modo estável e permanente.
“A imputação do crime de organização criminosa exige mais do que a reunião de vários agentes para a prática de delitos, a pluralidade de agentes. A existência de um plano delitivo não tipifica o crime de organização criminosa”, ressaltou Fux.
Com isso, o ministro adiantou que não deve votar pela condenação de Bolsonaro e aliados pelo crime de organização criminosa. O magistrado, porém, afirmou entender que os denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) cometeram ao menos o crime de concurso de pessoas.
Novas ameaças de Trump
Enquanto aguarda o desfecho do julgamento de Bolsonaro no STF, o mercado financeiro também monitora novas ameaças feitas pelo governo dos EUA contra o Brasil. Na véspera, a Casa Branca subiu o tom e falou em usar o “poder militar” norte-americano, sob a bandeira de garantir a “liberdade de expressão”. A declaração inaugurou um novo ponto de tensão entre os dois países.
Enquanto os ministros STF votavam no julgamento de Bolsonaro, a administração norte-americana se pronunciou sobre o caso por meio da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt. Em coletiva de imprensa, ela foi questionada se o Brasil pode ser alvo de novas retaliações norte-americanas, em virtude do julgamento de Bolsonaro. Como resposta, a representante do governo dos EUA disse que Trump não tem medo de usar “o poder militar” do país para garantir a liberdade de expressão ao redor do mundo.
“A liberdade de expressão é, sem dúvida, a questão mais importante do nosso tempo. Ela está garantida em nossa Constituição e Trump acredita firmemente nisso”, declarou Leavitt. “Eu não tenho nenhuma ação adicional [contra o Brasil] para antecipar para vocês hoje, mas posso dizer que isso é uma prioridade para a administração, e o presidente não tem medo de usar o poder econômico e o poder militar dos Estados Unidos da América para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo.”
Inflação no Brasil e nos EUA
Além do noticiário político interno, os investidores repercutiram no pregão desta quarta-feira os novos dados de inflação no Brasil e nos EUA. Em agosto, os preços de bens e serviços no Brasil caíram 0,11% – foi a primeira deflação registrada neste ano, após sete meses seguidos de aumento dos preços. O número ficou 0,37 ponto percentual abaixo da taxa registrada em julho, que foi de 0,26%.
O resultado do mês passado ficou abaixo do esperado por analistas do mercado. A mediana das previsões do relatório Focus, do BC, indicava uma queda de 0,15%. No ano, o IPCA acumula alta de 3,15% e, no acumulado de 12 meses, o índice ficou em 5,13%.
Segundo economistas e analistas do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles, o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA mostra um processo “consistente” de desaceleração, o que abre espaço para o Banco Central (BC) iniciar o ciclo de corte de juros até o fim do ano ou, em um cenário mais conservador, no início de 2026.
Atualmente, a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira está em 15% ao ano – em sua última reunião, no fim de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC interrompeu a série de altas e não mexeu nos juros. O Copom volta a se reunir na semana que vem, dias 16 e 17, para definir a Selic. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.
Nos EUA, dados divulgados pelo Departamento do Trabalho mostraram que o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em agosto, na comparação com julho, cuja alta revisada ficou em 0,7% em julho. No acumulado de 12 meses, o PPI teve alta de 2,6% em agosto, após o avanço de 3,1% em julho.
O núcleo do PPI, do qual são excluídos itens mais voláteis como preços de energia e alimentos – por isso, esse dado é considerado mais representativo da inflação do período –, avançou 0,3% em agosto, depois de alta de 0,6% em julho. Em 12 meses, o núcleo do PPI acumulou alta de 2,8%, depois do avanço de 2,7% no mês anterior. Os números vieram dentro da expectativa dos agentes econômicos.
No mercado, já não se discute se os juros dos EUA vão cair a partir de 17 de setembro, na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano). Para os investidores, a questão, agora, é saber de quanto será o corte e quantos deles ocorrerão até o fim deste ano.
Uma queda da taxa de juros americana tem forte impacto na economia global. Ela tende a reduzir a pressão sobre o dólar, baixando a cotação da moeda americana frente a outras moedas. Também torna mais atrativos os ativos de renda variável – e, portanto, de maior risco –, como as ações negociadas em bolsa.
Análise
Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, “o ambiente de mercado segue marcado pela expectativa de afrouxamento monetário nos EUA, que se consolidou como um fator positivo para o apetite ao risco nos mercados hoje”.
“A leitura mais fraca do PPI de agosto reforçou essa percepção, levando o mercado a precificar cerca de 75 pontos-base de cortes até o final do ano. Esse movimento foi sustentado também pelo resultado do leilão de Treasuries de 10 anos, que apresentou forte demanda (similar ao leilão de 3 anos de ontem), sobretudo de investidores estrangeiros, encerrando com taxa abaixo da esperada”, explicou. “Consequentemente o dólar, recua no mercado à vista, refletindo a combinação de menor prêmio de risco nos Treasuries longos, maior expectativas por cortes de juros e algum fluxo positivo para emergentes diante do movimento das commodities.”
Para Shahini, “o Ibovespa encontra apoio em fatores internos e externos”. “A valorização das commodities favorece papéis ligados a petróleo e minério, enquanto a perspectiva de um arrefecimento nas tensões comerciais com os EUA ajuda a reduzir incertezas”, afirma.
“Entre indicadores locais, o dado de inflação mostrou alívio, mas sem alterar de forma significativa as expectativas de política monetária. O tom geral, contudo, é de um mercado que encontra sustentação no cenário internacional mais favorável.”
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