Os dados mais fracos do mercado de trabalho nos Estados Unidos em julho, divulgados na semana passada, indicam que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) tem condições de iniciar um ciclo de cortes da taxa básica de juros da economia. A avaliação foi feita neste sábado (9/8) pela vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman.
Na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed, no fim do mês passado, a autoridade monetária decidiu manter os juros inalterados, no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano. Bowman foi uma das dissidências do Fed, votando a favor de uma redução de 0,25 ponto percentual.
Pela primeira vez em mais de 30 anos, desde 1993, o colegiado teve dois votos contrários à decisão majoritária. O Fomc é composto por 12 integrantes.
Além de Bowman, Christopher Waller também votou pelo corte nos juros. Ele é um dos nomes especulados como possível sucessor de Jerome Powell, atual presidente do Fed e cujo mandato termina em maio de 2026.
Tanto Bowman quanto Waller foram indicados ao comitê pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o maior crítico da política monetária conduzida por Powell à frente do Fed. Desde o início de seu mandato, Trump vem cobrando a redução dos juros no país.
“Agir na reunião da semana passada teria protegido proativamente contra o risco de uma erosão ainda maior nas condições do mercado de trabalho e um enfraquecimento ainda maior da atividade econômica”, afirmou Bowman.
Dados de emprego
Em julho, segundo dados do Departamento do Trabalho, a economia dos EUA registrou a criação de 73 mil novas vagas de emprego fora do setor agrícola. Trata-se do chamado “payroll”, um indicador econômico mensal dos EUA que indica a evolução do emprego no país fora do setor agrícola. O relatório, divulgado pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), é considerado determinante para as avaliações sobre o desempenho da economia norte-americana.
O resultado veio bem abaixo das projeções do mercado, que indicavam a criação de 106 mil vagas. A taxa de desemprego foi de 4,2%.
Analistas temiam que uma possível aceleração do mercado de trabalho nos EUA levasse a um novo aperto da política monetária pelo Fed. Nesse sentido, a criação de vagas abaixo das expectativas foi interpretada pelo mercado como uma notícia positiva, pois pode significar maior espaço para a queda dos juros.
“Isso está bem abaixo do ritmo observado no início do ano, provavelmente devido a uma diminuição significativa na demanda por mão de obra”, observou Bowman.
“Minha projeção é de três cortes ainda para este ano, o que tem sido consistente com minha previsão desde dezembro do ano passado, e os dados mais recentes do mercado de trabalho reforçam minha opinião”, completou.
Mais 3 reuniões em 2025
Até o fim de 2025, o BC dos EUA tem programadas mais três reuniões de política monetária – em setembro, outubro e dezembro. Nos últimos dias, ganhou força entre os analistas do mercado a tese de que o Fed deve começar a baixar os juros possivelmente a partir da próxima reunião, no mês que vem.
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Segundo dados do Departamento do Trabalho, a inflação nos EUA ficou em 2,7% em junho, na base anual, ante 2,4% registrados em maio. Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%, ante 0,1% em maio.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.
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