A desaceleração do mercado de trabalho no Brasil, esperada pela maioria dos economistas, deve ser mais lenta e gradual do que se esperava. Esta é a avaliação de analistas do mercado ouvidos pela reportagem do Metrópoles nesta terça-feira (30/9), pouco depois da divulgação dos dados oficiais de desemprego no país.
Em agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desemprego ficou em 5,6%. Foi a menor taxa de desocupação no país de toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), iniciada em 2012, repetindo o resultado do mês anterior.
No mês passado, a população desocupada (6,084 milhões) foi a menor da série histórica da pesquisa, recuando nas duas comparações: -9% (menos 605 mil de pessoas) no trimestre e -14,6% (menos 1 milhão de pessoas) no ano.
A população ocupada (102,4 milhões), por sua vez, cresceu nas duas comparações: 0,5% (mais 555 mil pessoas) no trimestre e 1,8% (mais 1,9 milhão) no ano.
O que diz o mercado
Segundo Igor Cadilhac, economista do PicPay, “o resultado confirma nossa avaliação de que o mercado de trabalho segue aquecido em 2025, muito próximo do menor nível dessazonalizado de toda a série histórica, inclusive em comparação à antiga Pesquisa Mensal de Emprego (PME)”.
“Do ponto de vista qualitativo, a dinâmica foi positiva. Tanto o número de desocupados quanto o de subutilizados recuaram, renovando mínimas históricas e levando o contingente de empregados com carteira assinada a um recorde. Já a taxa de participação e o nível de ocupação permaneceram estáveis, em 62,3% e 58,8%, respectivamente. Por outro lado, a taxa de informalidade avançou de 37,8% para 38%”, afirma Cadilhac.
“Olhando à frente, com base nos dados correntes e na natureza cíclica do mercado de trabalho, esperamos que o aquecimento persista ao menos até o fim do terceiro trimestre, quando deve ter início um processo gradual de desaceleração. Para 2025, projetamos taxa média de desemprego de 6%, encerrando o ano em 5,6%.”
O economista Maykon Douglas, por sua vez, observa que “a taxa de desemprego subiu pela primeira vez na série com ajuste sazonal, após cinco meses consecutivos de queda, vindo das mínimas históricas”.
“O mês de agosto não foi muito bom para o emprego, pois o Caged (emprego formal) publicado ontem mostrou uma geração líquida de postos de trabalho abaixo do esperado e aponta uma queda na média móvel de três meses”, diz o economista.
“No entanto, a massa salarial real cresce a um ritmo anual de cerca de 5%, o que é um ritmo alto. Isso mostra que o mercado de trabalho continua apertado, e a desaceleração esperada para o resto do ano deve ser relativamente lenta. Portanto, o Banco Central deve manter a cautela”, conclui.
Perda de dinamismo nos próximos meses
André Valério, economista sênior do Banco Inter, avalia que, no geral, “o resultado da Pnad continua a indicar um mercado de trabalho extremamente robusto, com ganhos na renda real e manutenção do nível de ocupação em patamar recorde”.
“Porém, analisando os ganhos de ocupação por grupamento de atividade, nota-se que eles ocorreram em setores menos sensíveis ao ciclo econômico, no caso a agricultura e o setor público, enquanto o grupamento de serviços domésticos apresentou redução na ocupação e o restante ficou estável”, pondera o economista.
“Os dados da Pnad, em conjunto com os do Caged divulgados ontem, sugerem a manutenção da robustez do mercado de trabalho brasileiro. No entanto, o Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem maiores pressões nas demissões, enquanto a Pnad indica estabilidade na taxa de desocupação”, prossegue Valério.
“Apesar de ser apenas um dado no tempo, fica a expectativa se o resultado de hoje é um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho, indicando perda de dinamismo nos próximos meses, à medida que o aperto monetário é sentido na atividade real. Nós esperamos ser o caso, com a taxa de desemprego avançando até 5,8% ao fim do ano e continuando sua deterioração ao longo de 2026, quando esperamos que atinja 6,5%.”
Leave a Reply