O Kendo — caminho da espada, em japonês — é uma arte marcial criada no fim do século XIX, período em que o Japão passava por uma era de modernização e abertura do comércio para nações ocidentais. O estilo mais recente é uma adaptação das tradicionais técnicas de espada do Kenjutsu, utilizadas pelos samurais, e inclui a disciplina, o respeito, o autoaperfeiçoamento e a honra como princípios fundamentais. Em Brasília, a Academia de Kendo de Brasília (AKB), no Setor de Clubes Sul, mantém viva essa tradição e passa adiante os ensinamentos de Saburo Takano, pioneiro do esporte em Brasília.
Neimar Soares, de 50 anos, 4° dan e sensei da AKB, é um dos praticantes mais antigos da academia. Além do Kendo, que treina há 25 anos, ele fez outras artes marciais japonesas, como judô e karatê. “Sempre estive envolvido em artes marciais, mas o apelo visual (espadas e roupas) me chamou a atenção. Depois que comecei a treinar, as práticas foram incorporadas à minha vida”, afirmou Soares, explicando o que o atraiu à luta com espadas.
Colega dele na arte marcial, Manuela Carvalho, 35, também 4° dan e sensei, viu no Kendo uma possibilidade de ficar mais perto da cultura japonesa, que tanto ama. “Minha inspiração foram as lutas com espadas do anime Rurouni Kenshin. Tentei praticar Kung Fu, mas não tinha flexibilidade para isso. Achei o Kendo muito democrático e consegui evoluir rapidamente”, contou.
Os animes e a cultura japonesa também foram as inspirações de Rebecca Luniére, 34, sensei e 4° dan. “O ponto de virada mesmo foi a luta com espadas. O Kendo abriu uma porta para eu conhecer a cultura japonesa”, afirmou.
Convocação
Além de senseis, Soares, Rebecca e Manuela são competidores profissionais. A equipe, composta por eles e Daniel Oliveira, que está em uma competição em São Paulo, foi convocada para um dos maiores torneios da categoria, o IX Campeonato Latino-Americano de Kendo. Os representantes de Brasília irão lutar na Argentina, entre 13 e 16 de novembro.
Rebecca destacou que a convocação é resultado de uma construção árdua. “Fiquei muito feliz porque treinamos muito para conseguir a classificação”, comemorou. Apesar de vencida essa primeira etapa, ela afirma que o trabalho não acabou. “Nossos esforços dobraram, para irmos bem no campeonato. O objetivo é atingir o pódio do (campeonato) latino-americano”, acrescentou.
Atleta master — acima de 50 anos —, Neimar Soares disse que ficou surpreso com a convocação. “Acreditava que a minha idade seria um empecilho. Ia aos eventos para me divertir, gostava de lutar, mas nunca foquei na Seleção”, revelou.
Soares realizava os treinos classificatórios apenas para ajudar Manuela e Rebecca, mas sua habilidade chamou a atenção da Confederação Brasileira de Kendo. “A classificação só foi possível por causa da entidade. Ia nos treinos para ajudar, e eles me convidaram para integrar o time”, contou.
Eterno aprendizado
Por suas características enraizadas nos valores japoneses, o Kendo é uma arte marcial que mescla aperfeiçoamento físico e mental. Na AKB, os valores originais da prática são fundamentais para a evolução, tanto pessoal como na academia. Segundo Rebecca Lunière, a filosofia conhecida como kaizen — termo que significa mudança para melhor — também faz parte de sua vida fora do Kendo. “Todo dia é importante fazer um pouquinho para ter uma melhora constante e conseguir ver uma grande mudança no futuro. Sempre procuro melhorar em outros aspectos da minha vida”, ressaltou.
Para Manuela Carvalho, as competições são marcantes, sobretudo a primeira, em São Paulo, em 2011. Ela lembrou que estava sozinha e, quando foi ao banheiro, teve um encontro que a inspira até hoje. “Estava um pouco nervosa e a Erika Ashiuci — competidora que possui mais de 150 títulos no currículo —, que fazia a graduação para 4° dan, foi muito simpática comigo. Ela me mostrou que dá para ser gentil, mesmo sendo forte”, relatou.
Sobre o futuro da modalidade em Brasília, Soares acredita que a arte marcial está ganhando cada vez mais espaço. Na opinião dele, um planejamento mais detalhado foi o grande responsável por garantir mais alunos. “A ideia de um planejamento é tão simples que a gente se pergunta como não pensamos nisso antes. Depois desse método, os alunos aderiram mais às práticas e são mais recorrentes nas aulas”, explicou.
Apesar do amor pelo Kendo, os praticantes afirmam que a arte marcial não traz retorno financeiro. Todos possuem outros empregos fora do dojo. Soares é analista de sistemas, Manuela é cientista de dados e Rebecca, médica veterinária. Na academia, todos os professores são voluntários e dependem de ajuda externa para custear o material de treinos e despesas com competições. Para saber como ajudar a academia, acesse o Instagram @kendoakb.
Por Por Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Guilherme Felix CB/DA Press
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