Armas nas mãos de CACs no DF equivalem à população do Lago Norte

O Distrito Federal reúne 41.624 armas registradas por Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs). O número se aproxima do total de moradores do Lago Norte, onde vivem 41.778 pessoas, segundo o Censo de 2022.

O dado foi disponibilizado pela Polícia Federal (PF), cujos processos relativos aos CACs passaram à responsabilidade da instituição em 1º de julho de 2025.

Os painéis divulgados pela Polícia Federal apresentam dados sobre o número de registros de CACs e estatísticas detalhadas sobre as armas sob posse desse grupo.

Segundo levantamento, 34.953 armas registradas na capital do país estão nas mãos de atiradores desportivos, seguido de caçadores (4.476) e colecionadores (2.195).

Além disso, 55,3% delas são de uso restrito, ou seja, aquelas cuja posse e uso são limitados a determinadas instituições e profissionais, conforme legislação específica.

O painel ainda contabiliza os tipos de armas registradas no DF, sendo a maioria delas pistolas (22.342), carabinas (9.291) e revólveres (5.360).

Os dados atualmente exibidos têm origem na base de dados fornecida pelo Exército Brasileiro. A Polícia Federal passará a atualizar os dados com base nas informações registradas em seus próprios sistemas.

De acordo com a corporação, a iniciativa visa “ampliar a transparência institucional e facilitar o acesso às informações por parte da população, da imprensa e de demais interessados”.

Desvio para o crime organizado

Para o especialista em segurança pública e direito militar, Berlinque Cantelmo, o Decreto 11.615/2023, editado pelo governo Lula, manteve a possibilidade de posse de armas de uso restrito, embora com limitações mais severas. Ainda assim, ele aponta que qualquer brecha pode ser explorada para desviar armas ao crime organizado.

Segundo o Instituto Sou da Paz, há registros de fuzis adquiridos legalmente por CACs que foram desviados e apreendidos com facções criminosas. O uso de “laranjas” para comprar armas legalmente e repassá-las a milícias e organizações criminosas tornou-se uma prática recorrente.

“Basta que 1% das 23 mil armas de uso restrito registradas no DF sejam desviadas para que tenhamos mais de 230 fuzis em circulação no crime. Isso é suficiente para armar várias quadrilhas com armamento de guerra”, alerta Berlinque.

O impacto também é sentido nas ruas. Com um número crescente de CACs armados com fuzis, o trabalho das forças de segurança fica mais arriscado e complexo.

“Hoje, um policial que cumpre um mandado ou aborda um veículo precisa considerar que pode estar diante de alguém armado com um fuzil. Isso muda os protocolos e exige treinamento específico. O cotidiano da segurança pública se tornou mais tenso com o boom de armas legais”, diz.

Entre 2021 e 2022, os crimes praticados por pessoas com certificado de CAC cresceram 78% no Distrito Federal, segundo a Polícia Civil. As ocorrências vão desde o uso indevido de armas até o comércio ilegal de armamento de uso restrito.

Para o especialista, o dado comprova que nem todos os CACs cumprem o papel previsto em lei. “É um erro pensar que todos são atiradores esportivos ou colecionadores legítimos. Há quem use esse título para burlar o controle estatal e facilitar o desvio de armas. Nem todos os CACs usam suas armas de forma responsável. Parte se envolve em delitos, e a quantidade elevada de armas aumenta o desafio das autoridades em manter o controle”, aponta.

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Novos limites

O decreto de Lula atualmente em vigor impôs novos limites à aquisição e ao uso de armas e munições. Para CACs, o número máximo de armas caiu de 30 para 8. Para a defesa pessoal, o limite foi reduzido de quatro para duas armas, e voltou a ser exigida a comprovação de efetiva necessidade.

As definições sobre armas de uso permitido e restrito também foram alteradas. Pistolas 9mm, .40 e .45 ACP – que haviam sido liberadas para civis — voltaram a ser classificadas como de uso restrito das forças de segurança.

Arsenal irregular

No início deste mês, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou uma operação com foco na apreensão de armas irregulares mantidas por CACs. A apreensão ocorreu após a cassação dos registros, até então realizados pelo Exército.

Foram encontradas 8 armas de fogo – três pistolas, dois revólveres, duas carabinas e um fuzil – e mais de mil munições, uma mira holográfica e uma luneta de precisão.

Manter armamento após a perda do registro configura crime, e quem executa a ação está sujeito às penalidades legais.

Créditos da Notícias

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