Alckmin fala em “acalmar ânimos” e vê avanço em negociações com EUA

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nesta terça-feira (19/8) que é hora de “acalmar os ânimos” com os Estados Unidos e apostar na intensificação das negociações com a Casa Branca após a imposição do tarifaço comercial de 50% sobre grande parte das exportações brasileiras destinadas aos norte-americanos.

As declarações de Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, foram dadas durante sua participação em uma conferência promovida por um banco, em São Paulo.

Segundo o vice-presidente, não há justificativas econômicas para as taxas de 50% aplicadas pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump. Para Alckmin, o objetivo agora é apostar na negociação comercial, tentar diminuir as tarifas, socorrer os setores mais afetados da economia brasileira e investir na ampliação de mercados.

“No nosso tempo, hoje, no mundo, não tem monotonia. Mas nada como um anestesista para acalmar os ânimos e a gente buscar uma boa negociação e um bom diálogo, que está caminhando”, afirmou Alckmin, e tom descontraído. “O nosso trabalho é aumentar a exclusão: mais produtos saírem da tarifa. E reduzir essa alíquota. Se nós temos 2,7% de média de tarifa de importação, não tem sentido ter 50% para entrar nos EUA.”

O vice-presidente lembrou que Brasil e EUA têm mais de 200 anos de “parceria e amizade”. “Temos quase 4 mil empresas americanas no Brasil. Os EUA são os maiores investidores no Brasil e o segundo parceiro comercial do país. Só a China compra mais que os EUA. Mas os americanos compram muitos produtores de valor agregado, o que é muito importante para nós”, destacou Alckmin. “Os EUA têm um déficit enorme de comércio, mas, do G20 [grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana], só com três países eles têm superávit: Brasil, Reino Unido e Austrália.”

Ao justificar a tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, Donald Trump alegou que o país estaria promovendo uma “caça às bruxas” que teria como maior alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado do líder norte-americano.

De acordo com a Casa Branca, o Judiciário brasileiro estaria perseguindo Bolsonaro com o intuito de inviabilizá-lo politicamente. O ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter liderado uma tentativa de golpe de Estado no país, após ser derrotado nas eleições de 2022. O julgamento de Bolsonaro e outros sete réus no STF foi marcado para o dia 2 de setembro.

Os EUA também instauraram investigação comercial, aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), a pedido de Trump. O governo norte-americano afirma que a análise visa a investigar supostas práticas comerciais desleais do Brasil em relação aos EUA e cita como exemplo as recentes disputas judiciais envolvendo plataformas digitais norte-americanas.

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Programa de ajuda é “focado e transitório”, diz Alckmin

Na semana passada, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou medidas de ajuda aos setores da economia mais afetados pelo tarifaço. Apelidada pelo governo de Brasil Soberano, a Medida Provisória (MP) prevê uma série de ações com foco em auxiliar os pequenos empreendedores a diminuir os prejuízos causados pelas novas taxas. As medidas passam a valer imediatamente após a assinatura e precisaram ser aprovadas em até 120 dias pelo Congresso.

A MP passa a tramitar no Congresso com a criação de uma comissão mista, composta por deputados e senadores, que vão analisar o texto. Depois de aprovada no colegiado, a medida terá que ser aprovada também pelos plenários da Câmara e do Senado. Caso não seja votada em 120 dias, a MP perde a validade. Um dos pontos que estão no texto é a concessão de linhas de crédito de R$ 30 bilhões para pequenos produtores afetados pelo tarifaço.

“O programa é focado e transitório. É ajudar as empresas primeiro com crédito, fundo garantidor, juros mais baixos. Em segundo lugar, compras governamentais, simplificando o processo licitatório. E o terceiro é o aspecto tributário”, disse Alckmin sobre o pacote de medidas anunciado pelo governo.

“As medidas são para socorrer o emprego e as empresas. Tem setor em que 95% é mercado interno e só 5% é exportação. Não vai cair o mundo. Mas tem setor em que 15% é mercado interno e 85% é exportação e, da exportação, 80% é para os EUA. Para estes, a situação é grave”, reconheceu o vice-presidente.

Segundo economistas e analistas do mercado ouvidos pelo Metrópoles, um ponto de atenção é o potencial impacto do pacote no já delicado quadro fiscal brasileiro, em um momento em que o governo tenta reduzir gastos para equilibrar as contas públicas, além da possibilidade de as medidas se tornarem permanentes, e não apenas temporárias.

Alckmin minimizou a preocupação de setores do mercado. “Esse dinheiro não é do governo, é do setor privado, é do exportador. Exportação não pode pagar imposto. Eu tenho que devolver, mas, em vez de devolver em 10 anos, vou fazer a devolução imediata. O que se está fazendo é antecipar esse pagamento”, afirmou.

“O primeiro ponto é negociação, é nós acreditamos que vamos avançar. O segundo é socorrer o emprego e a produção nessa emergência. E o terceiro é sempre buscar mercado”, concluiu Alckmin.

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