Ações da Reag derretem na Bolsa após operação contra fraude bilionária

As ações da Reag Investimentos, um dos 350 alvos da Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28/8) para desarticular esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis que envolve integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e fintechs e fundos de investimentos da Faria Lima, estão em queda livre na Bolsa de Valores do Brasil (B3).

Desde o início do pregão, os papéis da companhia vinham liderando as perdas na Bolsa brasileira. Por volta das 11h40 (pelo horário de Brasília), a derrocada era de 21,54%, com a ação negociada a R$ 2,95.

Mais cedo, na abertura do mercado, o papel da Reag já recuava 17,55%, cotado a R$ 3,10. Minutos depois, as ações entraram em leilão – foram retomadas pouco depois das 11h30.

O leilão de ações é um mecanismo utilizado pelas bolsas de valores para equilibrar a oferta e a demanda de ações em momentos específicos do pregão. Ele assegura que o preço de uma ação reflita de forma mais precisa o equilíbrio entre compradores e vendedores.

Por volta do meio-dia, o tombo era ainda maior: 22,87%, o que refletia o temor dos investidores após a empresa ser alvo da operação que investiga um esquema de fraudes bilionárias.

Às 12h42, a queda das ações da Reag era de 14,89%. Os papéis eram negociados a R$ 3,20.

O que diz a Reag

A Reag é uma das maiores gestoras independentes do país, ou seja, sem ligação com bancos. Em seu site, a empresa, fundada em 2012, informa que tem R$ 299 bilhões sob gestão. Ela está ligada à Reag Capital Holding S/A e também controla a Ciabrasf, além de seguradoras e financeiras.

A gestora também é conhecida por patrocinar o Belas Artes, um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo. Desde janeiro de 2024, o espaço passou a ser chamado de Reag Belas Artes. A gestora estreou na B3 em janeiro de 2025, ao adquirir a GetNinjas, uma empresa que já estava na Bolsa, listada no segmento do Novo Mercado, que exige práticas de governança corporativa mais rigorosas.

Nesta quinta-feira, por meio de um comunicado ao mercado, a Reag confirmou “que, na data de hoje, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão em suas respectivas sedes no âmbito da Operação Carbono Oculto”.

“Trata-se de procedimento investigativo em curso. As companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários”, disse a Reag.

“As companhias manterão seus acionistas e o mercado informados sobre o desenvolvimento dos assuntos objeto deste fato relevante”, completou a empresa.

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Operação Carbono Oculto

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Cerca de 1 mil postos movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024

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A megaoperação descobriu que pelo menos 40 fundos de investimentos foram utilizados como estruturas para ocultação de patrimônio

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São cumpridos cerca de 350 mandados de busca e apreensão a pessoas físicas e jurídicas em oito estados pelo país

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Operações financeiras por meio de fintechs dificultavam o rastreamento dos valores que eram transacionados

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Foram sonegados mais de R$ 7,6 bilhões em impostos, segundo a megaoperação

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Proprietários dos postos de combustíveis venderam seus estabelecimentos ao grupo criminoso e eram ameaçados de morte caso fizessem alguma cobrança

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Há indícios de que lojas de conveniência e padarias também parcipavam do esquema

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Operação envolve PCC e Faria Lima

Na mira dos investigadores, estão vários segmentos da cadeia de combustíveis que eram controlados pelo crime organizado, entre os quais a importação, a produção, a distribuição e a venda para o consumidor final.

Para isso, os grupos criminosos tentavam “blindar” ou ocultar o patrimônio – e faziam isso por meio de fintechs e fundos de investimentos, o que acaba ligando as fraudes reveladas pela operação à Faria Lima, centro financeiro da maior cidade do país.

Segundo a Receita Federal, as investigações apontaram que “o sofisticado esquema engendrado pela organização criminosa, ao mesmo tempo que lavava o dinheiro proveniente do crime, obtinha elevados lucros na cadeia produtiva de combustíveis”.

“O uso de centenas de empresas operacionais na fraude permitia dissimular os recursos de origem criminosa. A sonegação fiscal e a adulteração de produtos aumentavam os lucros e prejudicavam os consumidores e a sociedade”, afirma a Receita.

Os suspeitos de envolvimento no esquema usavam importadoras que atuavam como “interpostas pessoas, adquirindo no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel com recursos de formuladoras e distribuidoras vinculadas à organização criminosa”.

Um dos pontos cruciais da organização criminosa, de acordo com as investigações, era a blindagem do patrimônio dos envolvidos. “Os valores eram inseridos no sistema financeiro por meio de fintechs, empresas que utilizam tecnologia para oferecer serviços financeiros digitais. A Receita Federal identificou que uma fintech de pagamento atuava como ‘banco paralelo’ da organização criminosa, tendo movimentado mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024”, afirma a Receita.

Os criminosos controlavam várias instituições de pagamento menores, criando, assim, uma espécie de camada dupla de ocultação do patrimônio. “A fintech também recebia diretamente valores em espécie. Entre 2022 e 2023, foram efetuados mais de 10,9 mil depósitos em espécie, totalizando mais de R$ 61 milhões. Este é um procedimento completamente estranho à natureza de uma instituição de pagamento, que opera apenas dinheiro escritural”, afirmam os investigadores.

Ainda segundo a Receita, a “utilização de fintechs pelo crime organizado objetiva aproveitar brechas na regulação desse tipo de instituição”. “Essas brechas impedem o rastreamento do fluxo dos recursos e a identificação, pelos órgãos de controle e de fiscalização, dos valores movimentados por cada um dos clientes da fintech de forma isolada.”

De acordo com a Receita Federal, já foram identificados pelo menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, ligados ao PCC. Eles eram, em sua maioria, fundos fechados com um único cotista – em geral, outro fundo de investimento, o que aumentava as camadas de ocultação do patrimônio.

Entre os bens adquiridos por esses fundos, estão um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis.

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