A Polícia Federal (PF) identificou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou ilegalmente autoridades dos Três Poderes, jornalistas e servidores públicos entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. As ações, realizadas com o sistema de geolocalização “First Mile”, aconteceram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O relatório da PF, cujo sigilo foi retirado nesta quarta-feira (18/6) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que o programa foi usado sem autorização judicial e fora dos protocolos institucionais da própria Abin.
Ao todo, foram feitas 60.734 consultas de geolocalização, atingindo cerca de 1,8 mil linhas telefônicas. Segundo a investigação, o esquema não seguia nenhum planejamento formal e tampouco tinha registros documentais, o que dificultou o rastreamento das ordens e da cadeia de comando. Além disso, a PF identificou tentativas de apagar os registros eletrônicos (logs) de uso do sistema.
Confira a lista dos principais nomes monitorados
Poder Judiciário
- Alexandre de Moraes
- Dias Toffoli
- Luís Roberto Barroso
- Luiz Fux
Poder Legislativo
- Arthur Lira (PP-AL), deputado e então presidente da Câmara dos Deputados
- Rodrigo Maia (PSDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados
- Kim Kataguiri (União-SP), deputado federal
- Joice Hasselmann (Podemos-SP), ex-deputada federal
- Alessandro Vieira (MDB-SE), senador
- Renan Calheiros (MDB-AL), senador
- Randolfe Rodrigues (PT-AP), senador
- Jean Wyllys, ex-deputado federal
- Gustavo Gayer (PL-GO), deputado federal
- João Campos de Araújo, ex-deputado federal
- Paulo Pimenta (PT-RS), deputado federal
Poder Executivo
- João Doria, ex-governador de São Paulo
- Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro
- Cláudio Bomfim de Castro e Silva, então governador do Rio de Janeiro
- Orlando Silva, ex-ministro do Esporte
- Hugo Ferreira Netto Loss, servidor do Ibama
- Roberto Cabral Borges, servidor do Ibama
- Christiano José Paes Leme Botelho, auditor da Receita Federal
- Cleber Homen da Silva, auditor da Receita Federal
- José Pereira de Barros Neto, auditor da Receita Federal
Jornalistas
- Ricardo Noblat, colunista do Metrópoles
- Mônica Bergamo
- Vera Magalhães
- Reinaldo Azevedo
- Luiza Alves Bandeira
- Pedro Cesar Batista
- José Vitor de Castro Imafuku
Tentativa de ocultar provas
De acordo com o relatório da PF, os agentes envolvidos nas operações ilegais tentaram apagar rastros das atividades. Foram excluídos logs de acesso ao sistema “First Mile”, dificultando a identificação de quem executou cada consulta.
Além da falta de registros, o inquérito aponta que muitas dessas operações não passaram por nenhuma forma de controle institucional da Abin. As investigações indicam que o sistema foi usado de forma clandestina para fins políticos, eleitorais e até pessoais.
O esquema, conhecido como “Abin Paralela”, está sendo alvo de investigações desde 2023 e pode ter violado direitos fundamentais de privacidade e sigilo de comunicação, previstos na Constituição Federal.
Leave a Reply