O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que, neste momento, o governo brasileiro não está preocupado em fazer algum tipo de retaliação aos Estados Unidos (EUA) após a aplicação das tarifas de 50% sobre grande parte dos produtos exportados pelo país aos norte-americanos. O político falou sobre o assunto em visita a Guaratinguetá (SP), no interior paulista, neste sábado (9/8).
Segundo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vem liderando as negociações comerciais com o governo dos EUA, o objetivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é “resolver” a questão. Para isso, ele anunciará uma série de medidas de apoio aos setores da economia brasileira mais afetados pelas tarifas.
Em paralelo a isso, o Palácio do Planalto segue tentando abrir canais de negociação com o governo do presidente norte-americano Donald Trump. A ideia é incluir outros produtos e setores na lista de quase 700 exceções — que ficaram fora do tarifaço e não serão taxadas pelos EUA.
“A prioridade não é retaliar. A prioridade é resolver, é procurar ampliar o número de setores que sejam excluídos, que fiquem fora da tarifa, que entendemos ser extremamente injusta. Aliás, com base jurídica totalmente fraca. Eu não posso fazer política regulatória baseada em questões de natureza política partidária”, afirmou Alckmin, em entrevista coletiva após visitar uma concessionária na cidade do interior paulista.
O vice-presidente reiterou que o governo brasileiro “entende que é errado o aumento de tarifas”. “Quando se aumenta a tarifa, quem paga é o consumidor. Não é o governo que paga, é o consumidor que acaba pagando. Então, entendemos que é um perde-perde. Nós devemos ir para um ganha-ganha. Ou seja, aumentar o fluxo de comércio, aumentar a exportação, a complementaridade econômica.”
“O presidente Lula deve anunciar no início da semana um pacote, um conjunto de medidas mitigatórias. Ou seja, apoiar as empresas. Quais empresas? Aquelas que exportam mais e que exportam mais para os EUA, que foram afetadas”, prosseguiu.
“Tem setores que nos preocupam. Café, carne e, especialmente, indústria de motores e máquinas. O produto, a commodity, é mais fácil você encaixar em outro lugar. A indústria é mais específica, é mais difícil”, explicou o vice-presidente. “Aguardem aí, 24 horas, 48 horas, [o governo] está lançando um programa bem amplo de apoio para preservar emprego e as empresas poderem retomar e fortalecer sua atividade econômica.”
Sem justificativa
Na conversa com os repórteres, Alckmin reforçou o discurso, que vem sendo adotado pelo governo, de que não há justificativa econômica para o tarifaço de Trump porque os EUA têm superávit comercial com o Brasil, e não déficit.
“Nós exportamos no ano passado US$ 40 bilhões para os EUA. O primeiro comprador do Brasil é a China, mas os EUA são importantes porque é para onde a gente vende valor agregado: avião, autopeças, máquinas, motores. É importante”, disse.
“Nós estamos trabalhando de maneira empenhada. Porque, de cada dez produtos que os EUA vendem para nós, oito não pagam imposto. É 0% para entrar no Brasil. E a tarifa média é 2,7%. Então, não tem o menor cabimento você ter uma tarifa para entrar no Brasil de 2,7% e de 50% para entrar nos EUA”, afirmou Alckmin. “Os EUA têm déficit com muitos países do mundo, mas têm superávit em três países grandes: Reino Unido, Austrália e Brasil. Então, nós estamos empenhados em mudar essa questão do tarifaço.”
Programa Carro Sustentável
Além do tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil, Geraldo Alckmin falou sobre os efeitos positivos do programa do governo federal de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
De acordo com dados divulgados nesta semana pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de veículos no Brasil subiram 14,2% em julho, totalizando 243,2 mil unidades.
Na comparação com julho de 2024, as vendas de veículos ficaram praticamente estáveis, com leve alta de 0,8%. Já no acumulado de janeiro a julho, os licenciamentos cresceram 4,1%, com 1,44 milhão de veículos.
No início de julho, Lula assinou um decreto que diminuiu as alíquotas de IPI dos carros mais leves e econômicos, movidos à energia limpa e que atendam aos requisitos de segurança.
O decreto criou a modalidade de Carro Sustentável, por meio da qual veículos compactos com alta eficiência energética e ambiental e fabricados no Brasil terão o IPI zerado. O mecanismo está previsto no programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
Para ter direito ao IPI zero, o carro sustentável deve atender a requisitos como emitir menos de 83 g de CO₂ por quilômetro; conter mais de 80% de materiais recicláveis; ser fabricado no Brasil; e se enquadrar em uma das categorias de carro compacto.
“O presidente Lula zerou o IPI para o carro de entrada. Esse IPI zero vai ajudar a reduzir o preço do veículo de entrada para a população ter acesso ao carro mais barato, o chamado carro sustentável. É um carro flex-fuel, ele tem álcool, emite menos CO₂ e tem 80% de reciclabilidade”, destacou Alckmin.
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