Assassinatos em comércios do DF aumentaram 70% em 2024

Os casos de homicídios ocorridos em estabelecimentos comerciais ou imediações aumentaram 70% em 2024, subindo de 27 para 46 mortes, o que representa 22% dos assassinatos cometidos no ano passado, segundo dados do Anuário de Segurança Pública do Distrito Federal. Em relação aos meios empregados utilizados, 45% dos assassinatos foram cometidos por arma branca.

A análise ambiental dos locais onde os crimes foram consumados mostra que 60% (ou 124 casos) aconteceram em espaços ou vias públicas, tendo uma diminuição de seis pontos percentuais comparado ao ano anterior. Dentre os locais de crime analisados (residência, área pública e outros), mostram que o comércio foi a única área que registrou aumento em relação a 2023.

Na apresentação do Anuário, o secretário da pasta, Sandro Avelar, informou que o DF chegou à menor taxa de homicídios em toda série histórica, iniciada em 1977. “Em 2024, nós tivemos a menor média de homicídios a cada 100 mil habitantes. Foram 6.9 homicídios a cada 100 mil habitantes, quando a média do Brasil é superior a 20”, pontuou Avelar. De acordo com o secretário, a taxa no DF é semelhante à de países europeus.

Entre as vítimas de homicídio em 2024, 197 foram homens e 10 mulheres. Em 2023, houve registro de 234 homicídios no DF. Ou seja, na comparação entre os dois anos, houve queda de 12%. Até maio deste ano, 99 homicídios foram consumados.

Veja os locais onde ocorreram os homicídios:

chart visualization

Dentre os 46 casos de homicídio registrados em comércios no ano de 2024, 36 ocorrências aconteceram no interior ou nos arredores de bares e distribuidoras de bebidas alcoólicas, estatística correspondente a 17% do total de assassinatos cometidos na capital federal.

Além disso, um levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP) apontou que, em 2024, 33% dos homicídios consumados que ocorreram em distribuidoras foram entre meia-noite e 6h, número que saltou para 60% neste ano.

O número alto de ocorrências em distribuidora de bebidas fez com que o Governo do Distrito Federal (GDF) estabelecesse novas diretrizes no horário de funcionamento. Desde 31 de março de 2025, esses estabelecimentos estão abertos exclusivamente no período das 6h às 0h, independentemente de estarem localizados em áreas comerciais, mistas ou residenciais.

Segundo o GDF, a definição do novo horário teve como objetivo padronizar o funcionamento das distribuidoras e assegurar maior alinhamento com as políticas públicas de segurança e ordenamento urbano. A medida foi formalizada por meio da Portaria Conjunta nº 01, de 10 de março de 2025, publicada no Diário Oficial do DF.

Para Leonardo Sant’Anna, especialista internacional em segurança pública, muitos dos homicídios acabam acontecendo em torno de locais que não deveriam exercer determinada atividade comercial, como por exemplo as distribuidoras de bebida e comércios clandestinos que funcionam em áreas que não são destinadas para as áreas comerciais.

“A situação econômica e social do país faz com que pessoas que estejam em vulnerabilidade social, algumas delas passando a se tornar agressores sociais, fiquem em torno de áreas comerciais para que possam buscar suas vítimas, aquelas que podem potencialmente oferecer algum tipo de benefício para quem ingressa nesse mundo, para quem ingressa nesse ponto enquanto futuro criminoso”, explicou o especialista.

Arma branca x arma de fogo

Com 45% dos casos, sendo 94 no total, a arma branca foi o meio empregado mais utilizado na consumação dos crimes, seguido pela arma de fogo, com 41%, que foi utilizada 84 vezes. Logo depois, vêm seguidos por agressão física (10%) outros (2%) e fogo (1%).

Em um panorama geral, a variação dos homicídios pelo meio empregado teve uma queda de 12%, representando 27 delitos a menos. A variação de agressão física teve uma queda de 28%, passando de 29 em 2023 para 21 ocorrências no ano passado.

Para Sant’Anna, é necessário que o Poder Judiciário e Legislativo sejam mais firmes criando e aplicando leis mais rígidas. “Enquanto a lei não mudar e o pensamento do Ministério Público e Promotorias não mudar, continuaremos tendo pessoas utilizando as facas”, reforçou.

Veja os números de meios empregados nos homicídios:

chart visualization

 

 

Vítimas

Ao comparar os dois últimos anos, percebe-se que houve uma redução de 10% nos homicídios de homens e 29% no das mulheres. É possível ver também que a predominância das mortes do sexo masculino permanece, sendo 197 mortes em 2024,ao contra 10 do sexo feminino.

Em relação à faixa etária das vítimas, há uma predominância entre pessoas de 18 a 29 anos, que foram 64 casos (31%) e de 30 a 39 anos, onde 74 pessoas foram mortas. Apesar de serem apenas 11% afetados pelos crimes, o público de 50 a 59 anos registrou 16% de crescimento, de 19 para 22, tendo o maior aumento em relação a 2023.

Um homicídio marcou a manhã de Natal do último ano, quando Maurício Nunes Gonçalves levou oito tiros em frente a uma distribuidora de bebidas, na QR 425, Conjunto 8, em Samambaia. A vítima ainda teria tentado fugir, mas foi alcançada, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Ele tinha 37 anos.

Um homem de 24 anos que bebia no local teria sido o autor dos disparos, segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

1 de 5

Dos 46 casos de homicídio em estabelecimento comercial, 36 foram em distribuidoras

Divulgação/Administração do Lago Sul

2 de 5

Jorny Thiago, segurança de 23 anos, foi baleado por cliente que quis sair sem pagar

Reprodução

3 de 5

Homicídios com armas brancas correspondem a 45% dos meios empregados

Gettyimages

4 de 5

Assassino de Jorny, Felype Barbosa da Silva, 27, estava escondido em um hotel de Valparaíso (GO), Entorno do DF, e não resistiu à prisão

Igo Estrela/Metrópoles

5 de 5

Maurício Nunes Gonçalves foi executado na manhã do último Natal

Redes Sociais/Reprodução

Dor da perda

Em 13 de outubro de 2024, o segurança de um bar no Riacho Fundo II,  foi baleado e teve a vida interrompida após tentar impedir que um homem saísse sem pagar a conta. Além de Jorny Thiago Abreu, 23 anos, uma criança, a mãe dela e outras três mulheres foram baleadas, mas sobreviveram.

O autor do crime, Felype Barbosa, de 27 anos, foi preso um dia após o assassinato, escondido em um hotel em Valparaíso de Goiás. Na época, um funcionário do bar chegou a ser detido por deixar o homem entrar no estabelecimento com o revólver sem revistá-lo.

Mais de oito meses depois de perder o seu filho, a psicoterapeuta Josy Abreu ainda luta contra a dor da perda de Jorny. “O luto para mim é uma montanha russa, tem dias para cima e dias para baixo”, relatou a mãe de Jorny.

“Estamos sempre na esperança que um dia ele vai voltar a berço sabendo que ele não vai. Porque foi uma perda tão repentina. Ele saiu para trabalhar, então fica aquela esperança que ele foi viajar, algo assim. Porque é muito difícil enfrentar essa realidade de que realmente ele se foi nesse crime brutal. É muito difícil. Dizer que superou é muito complicado, porque a dor ainda é muito grande e a falta também”, disse Josy.

A família do jovem ainda clama por justiça e espera pela punição do envolvido no assassinato. Segundo a psicoterapeuta, as audiências do caso foram feitas e o caso será levado para júri popular. “Uma das formas que eu encontro de seguir é entendendo que eu preciso ficar bem, para ver que vai ser feita justiça sobre o sangue inocente do meu filho que foi derramado. Então, uma das coisas que ainda me mantém de pé é isso. Esperando que chegue o dia que eu veja a justiça sendo feita”, desabafou Josy.

Qualquer tipo de crime pode ser informado à PMDF pelo telefone 190 ou à Polícia Civil pelo ramal 197. O anonimato das testemunhas é garantido pelas corporações.

Créditos da Notícias

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *