Os dados sobre desemprego divulgados nesta sexta-feira (27/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o mercado de trabalho do país continua aquecido, o que reforça a tese do Banco Central (BC) de que ainda é necessário manter uma política monetária restritiva – juros altos – por mais tempo.
A avaliação é de economistas e analistas do mercado ouvidos pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, pouco depois do anúncio do IBGE de que o desemprego no Brasil ficou em 6,2% em maio deste ano. O resultado representou uma queda de 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre imediatamente anterior (6,8%). O emprego com carteira assinada bateu recorde no período.
A população desocupada (6,8 milhões) diminuiu 8,6% (menos 644 mil pessoas) em comparação com o trimestre de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025 (7,5 milhões). Em relação ao mesmo período do ano anterior (7,8 milhões), houve queda de 12,3% (menos 955 mil pessoas).
Já a população ocupada (103,9 milhões) subiu 1,2% (mais 1,2 milhão de pessoas) no trimestre e 2,5% (mais 2,5 milhões de pessoas) no ano. O nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) foi de 58,5%, alta de 0,6% no trimestre (58%) e variando 1 ponto percentual no ano (57,6%).
O que diz o mercado
Segundo Igor Cadilhac, economista do PicPay, “esse resultado confirma nossa previsão de um mercado de trabalho brasileiro aquecido neste ano, que atualmente se encontra no menor nível dessazonalizado de toda a série histórica, incluindo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME)”.
“Do ponto de vista qualitativo, a dinâmica foi positiva. A taxa de participação subiu de 62,3% para 62,4%, enquanto o nível de ocupação aumentou de 58,2% para 58,5%. Com isso, o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu um patamar recorde, chegando a 39,8 milhões de pessoas, o que contribuiu para a sétima queda consecutiva na taxa de informalidade, que passou de 37,9% para 37,8%”, observou o economista.
“Em relação aos salários, o rendimento médio real – já descontada a inflação – ficou em R$ 3.457, permanecendo estável na margem. Esse cenário, combinado à baixa taxa de desemprego, impulsionou a massa salarial para R$ 354,6 bilhões, um novo recorde. Considerando as implicações desse quadro para a inflação, o hiato do produto positivo gera preocupações, especialmente diante da nova regra do salário-mínimo, em vigor desde fevereiro”, explicou Cadilhac.
Segundo o economista, “a leitura qualitativa do indicador sugere que o mercado de trabalho segue robusto, e os sinais recentes de deterioração em sua composição parecem ter sido pontuais”.
“Diante das surpresas observadas nos últimos meses e da natureza cíclica do mercado de trabalho, ainda esperamos uma desaceleração gradual do setor, embora ele deva permanecer nesses níveis historicamente mínimos por mais algum tempo. Para 2025, projetamos uma taxa média de desemprego e um encerramento de ano em 6,4%.”
Para André Valério, economista sênior do Banco Inter, “notam-se melhorias em praticamente todas as medidas, com a população desocupada diminuindo, assim como a informalidade, além da população ocupada aumentando e do número de empregados no setor privado com carteira assinada batendo recorde na série histórica”.
“Apesar do rendimento real ter ficado estável, mas em patamar robusto, vimos a massa de rendimento real batendo novo recordo, alcançando R$ 354,6 bilhões, o que ajuda a dar sustentação ao consumo e crédito”, afirma Valério.
O economista, no entanto, chama atenção para “alguns sinais que sugerem cautela à frente”. “Boa parte do avanço no emprego foi devido a setores acíclicos, com a administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais adicionando 684 mil empregados, enquanto os outros setores não tiveram variação significativa. Isso sugere que as condições financeiras mais apertadas, com a Selic a 15%, têm desincentivado a contratação de novos trabalhadores. Além disso, observou-se também aumento de 3,8% na população subocupada por insuficiência de horas, outro sinal de fragilidade no mercado de trabalho”, aponta.
“Ainda assim, vemos o mercado de trabalho historicamente aquecido. Porém, esperamos que o aperto monetário empreendido pelo Banco Central nos últimos meses irá desacelerar o emprego e que a taxa de desocupação encerre o ano a 7,6%.”
De acordo com o economista Maykon Douglas, “a queda do desemprego no mês passado, após alguns meses de relativa estabilidade, deixou o mercado ‘pagando para ver’ se essa queda foi um mero ‘soluço’ ou um reforço de tendência de baixa”.
“O resultado de hoje sugere o segundo cenário, pois a taxa de desocupação se aproximou dos 6% e renovou a mínima histórica. Além disso, a leitura trouxe um ótimo qualitativo, com expansão da ocupação puxada pelo emprego formal (que veio um pouco pior nas duas sondagens anteriores) e nova máxima histórica para a massa salarial”, afirma.
“Temos todos os ingredientes que reforçam a trajetória de resiliência do mercado de trabalho, um dos principais motivos para que o BC precise manter os juros no atual patamar pelo menos até o fim do primeiro trimestre de 2026”, conclui.
Banco Central
A elevação da taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, maior nível em quase duas décadas, depois de sete altas consecutivas.
Quando o Copom aumenta os juros, como agora, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
De acordo com o comunicado que acompanhou a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o aumento de 0,25 ponto percentual foi compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, disse o Copom.
O comitê ainda informou que encerrará o ciclo de aperto monetário na próxima reunião, prevista para 29 e 30 de julho. Entretanto, a taxa deve se manter em 15% por um bom tempo, sem cortes por enquanto.
“Em se confirmando o cenário esperado, o comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou o BC.
Leave a Reply