Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial do país, vieram abaixo do esperado em junho deste ano e indicam que o pior da pressão inflacionária parece ter ficado para trás. A avaliação é de economistas e analistas do mercado ouvidos pelo Metrópoles nesta quinta-feira (26/5).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 ficou em 0,26% em junho, o que representa um recuo de 0,1 ponto percentual em relação à taxa de maio (0,36%). No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 foi de 5,27%, desacelerando em relação aos 5,4% de maio.
Os resultados da prévia da inflação vieram abaixo das estimativas dos analistas do mercado, que eram de 0,3% (na base mensal) e 5,31% (anual).
Habitação foi o grupo que exerceu maior impacto no IPCA-15, com alta de 1,08% e 0,16 ponto percentual, seguido de vestuário (0,51%). Por outro lado, o segmento de alimentação e bebidas registrou a primeira queda (-0,02%), após nove meses consecutivos de alta.
O que diz o mercado
Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado de junho “reafirma a leitura de maio, quando a inflação passou a dar sinais mais claros de que o período recente de pressões poderia estar perto do fim”. “Nota-se que as principais medidas fizeram pico e passaram a recuar, influenciados pela reversão da inflação de alimentos e da deflação nos combustíveis”, afirma.
“Dado que a reversão que se vê neste momento ocorre através de itens pouco sensíveis à taxa de juros e que o atual ciclo de aperto monetário ainda não foi completamente transmitido à economia, não se pode descartar uma inflação menor que o esperado no segundo semestre”, observa o economista.
“De toda forma, ainda devemos encerrar o ano com a inflação acima do teto da meta, mais próxima de 5%, com o Banco Central mantendo a política monetária em terreno contracionista durante todo o ano. Um eventual início do ciclo de cortes na reunião de dezembro deste ano dependerá de uma atividade mais fraca que o esperado”, completa Valério.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, afirma que a instituição projeta uma inflação de 5,3% no Brasil em 2025.
“Embora ainda identifiquemos uma assimetria altista nos riscos, a continuidade da melhora no balanço de riscos, especialmente no câmbio, tem contribuído para um cenário mais equilibrado”, destaca.
“Entre os principais riscos de alta, monitoramos a desancoragem das expectativas de inflação, a persistência inflacionária nos serviços, impulsionada por um hiato do produto ainda positivo, e a desvalorização do real em um ambiente de deterioração fiscal”, prossegue Cadilhac.
“Por outro lado, destacamos como fatores de baixa um cenário global menos favorável à atividade econômica, reflexo de choques no comércio internacional, e preços das commodities.”
Segundo o economista Maykon Douglas, foi “mais uma leitura de surpresas baixistas na inflação, assim como no IPCA de maio, publicado há algumas semanas”. “Apesar das pressões nos preços de energia em razão da bandeira tarifária, outros vetores mais que compensaram esse impulso: saúde e cuidados pessoais e, principalmente, alimentos e bebidas, item que também costuma ser mais sensível à volatilidade do câmbio, assim como os bens industriais”, disse.
“No entanto, apesar dessa trajetória mais benigna recente, o BC está bem posicionado em termos de comunicação para evitar apostas de cortes antecipados da taxa Selic. O caminho para a plena descompressão da inflação corrente e das expectativas continua desafiador, dadas as diversas fontes de incerteza no cenário.”
Na mesma linha, Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, afirma que “a leitura do IPCA-15 de junho veio abaixo das expectativas do mercado, reforçando sinais positivos no comportamento da inflação brasileira”.
“Apesar da pressão pontual da energia elétrica, a composição do índice revela um quadro mais benigno e consistente com a expectativa de estabilidade da política monetária”, avalia Spyer.
“A reação imediata do mercado foi de alívio, com queda nos juros futuros ao longo da curva, refletindo a percepção de que, no curto prazo, o Banco Central pode manter a Selic em 15% por um período prolongado, sem necessidade de novos apertos”, conclui.
Banco Central
A elevação da taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, maior nível em quase duas décadas, depois de sete altas consecutivas.
Quando o Copom aumenta os juros, como agora, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
De acordo com o comunicado que acompanhou a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o aumento de 0,25 ponto percentual foi compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, disse o Copom.
O comitê ainda informou que encerrará o ciclo de aperto monetário na próxima reunião, prevista para 29 e 30 de julho. Entretanto, a taxa deve se manter em 15% por um bom tempo, sem cortes por enquanto.
“Em se confirmando o cenário esperado, o comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou o BC.
IPCA-15
O IPCA-15 difere do IPCA, que mede a inflação oficial do país, na abrangência geográfica e no período de coleta, que começa no dia 16 do mês anterior. Por essa razão, ele funciona como uma prévia do IPCA.
O indicador coleta dados sobre as famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. Ele abrange: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Brasília e Goiânia.
A próxima divulgação, referente a julho, será feita em 25 de julho.
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