Abin Paralela: todas as 60 mil consultas feitas foram ilegais

A Polícia Federal (PF) concluiu que todas as 60.734 consultas realizadas com o sistema de monitoramento First Mile pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), entre 2018 e 2021, foram ilegais. A constatação está em relatório sigiloso da corporação, que teve o sigilo suspenso nesta terça-feira (18/6) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento sustenta que as consultas não tinham nenhum respaldo judicial, sendo feitas com “vício identificado na origem”, uma vez que a contratação da tecnologia já ocultava sua real natureza intrusiva.

Segundo o inquérito, o First Mile conseguia rastrear a localização de dispositivos móveis sem ordem judicial, violando direitos fundamentais. O sistema foi comprado por R$ 5,7 milhões pela Abin, oficialmente para uso na intervenção federal no Rio de Janeiro, mas acabou sendo utilizado amplamente para fins políticos e pessoais.

8 imagensAlexandre Ramagem (PL) concorreu a prefeito do Rio com apoio do ex-presidente Jair BolsonaroHomem de confiança de Bolsonaro, Alexandre Ramagem foi alvo da PF em operação sobre suposta espionagem na AbinCarlos Bolsonaro posta foto de Ramagem tomando café com BolsonaroDeputado Alexandre Ramagem e Eduardo BolsonaroCarlos Bolsonaro e Ramagem com Jair Bolsonaro; vereador e deputado são investigados por "Abin Paralela"Fechar modal.1 de 8

O ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado pela PF no caso da Abin Paralela

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Alexandre Ramagem (PL) concorreu a prefeito do Rio com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro

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Homem de confiança de Bolsonaro, Alexandre Ramagem foi alvo da PF em operação sobre suposta espionagem na Abin

Valter Campanato/Agência Brasil4 de 8

Carlos Bolsonaro posta foto de Ramagem tomando café com Bolsonaro

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Deputado Alexandre Ramagem e Eduardo Bolsonaro

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Carlos Bolsonaro e Ramagem com Jair Bolsonaro; vereador e deputado são investigados por “Abin Paralela”

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Atualmente, Ramagem é deputado federal

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Ramagem ao lado do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro

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Estrutura paralela e uso político

A PF detalha a existência de uma “estrutura paralela de inteligência”, comandada na época pelo então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, que teria desviado recursos humanos, financeiros e tecnológicos do órgão para fins de blindagem política, monitoramento de adversários, jornalistas, advogados e servidores públicos.

O relatório declara que o núcleo político instalado na Abin usava a ferramenta para ações clandestinas e coleta de dados sensíveis sem qualquer controle institucional, burlando a necessidade de autorização judicial prevista pela Constituição.

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Contratação com ocultação de finalidade

A investigação aponta que a aquisição do sistema foi realizada com plena consciência de seu caráter invasivo. Técnicos e gestores da Abin teriam ocultado, propositalmente, o real potencial de violação de privacidade da tecnologia nos documentos formais do processo licitatório — como o estudo técnico preliminar e o termo de referência.

Perícias da PF confirmaram, inclusive por engenharia reversa, que a interface do First Mile demonstrava sua capacidade de localização em tempo real e coleta de dados sensíveis. A omissão teria sido estratégica para viabilizar o uso sem controle judicial.

Além da ilegalidade do método, a PF alerta que muitos dos monitoramentos ocorreram sem sequer um motivo formalizado nos registros de inteligência da própria Abin, o que impossibilita entender o contexto de grande parte das ações.

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