O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez uma espécie de balanço de sua gestão à frente da pasta e afirmou que deixará um importante “legado” para os próximos governos e o país. As declarações foram dadas nesta segunda-feira (22/9), durante sua participação em um evento promovido por um banco, em São Paulo.
Em seu discurso, na abertura do seminário, o chefe da equipe econômica adotou, em alguns momentos, quase um tom de “despedida” – embora tenha afirmado que está satisfeito no comando da Fazenda e não tenha dado indicações mais claras de que pode deixar o posto.
O nome de Haddad é especulado como um potencial candidato nas próximas eleições, em 2026. O ministro da Fazenda é cotado para disputar uma vaga no Senado ou mesmo para a eleição ao governo do estado – que já disputou uma vez, em 2022, sendo derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Haddad tem dito, publicamente, que não pretende ser candidato nas eleições do ano que vem. Caso seja convencido a disputar algum cargo, ele terá de deixar o Ministério da Fazenda em abril de 2026, seis meses antes do pleito.
“Eu quero sair deste cargo podendo encontrar vocês em qualquer circunstância e podendo conversar sobre o Brasil e o melhor caminho para o país. Como melhorar o grau de investimento, o volume de investimento, as contas públicas, fazer o dinheiro chegar em quem precisa”, disse Haddad no início de sua fala.
“Se erramos ou acertamos, a história vai dizer. Mas tudo foi feito com muita tenacidade, com muita vontade. O trabalho não está completo, sempre haverá tarefa pela frente”, prosseguiu o ministro da Fazenda.
Haddad reconheceu, ainda, que há uma série de “divergências” envolvendo lideranças do PT e a agenda capitaneada pelo Ministério da Fazenda, especialmente quando se trata da questão fiscal. Segundo ele, isso não é um empecilho ao seu trabalho nem ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Toda vez vai ter esse tipo de debate. Houve debate entre [Pedro] Malan e [José] Serra, entre Guido [Mantega] e [Antonio] Palocci, entre Rogério Marinho e Paulo Guedes… é assim. Quem não gosta não assume a Fazenda. Eu quis assumir a Fazenda sabendo da confusão”, explicou.
“Eu não fui desavisado para a Fazenda. Eu queria o cargo. Eu fui lá com gosto, estou com gosto até hoje. Gosto do que eu faço. Agora, é ingênuo imaginar que você vai botar um ministro da Fazenda lá que não vá enfrentar [algum tipo de resistência]. Divergência vai ter. Tem gente que não acredita que o fiscal é importante. O que se vai fazer? Não é o meu caso.”
Segundo Haddad, o legado do governo Lula na área econômica será positivo para o país e para as futuras gestões. “Nós vamos ter o melhor crescimento médio dos últimos 12 anos ou mais, a menor inflação de um mandato desde o Plano Real, a menor taxa de desemprego da série histórica, o melhor desempenho fiscal dos últimos três mandatos e a maior reforma tributária já feita sob qualquer regime”, afirmou.
“Quando a reforma tributária entrar em operação com um sistema totalmente digital, nós vamos entrar em outra fase do desenvolvimento brasileiro, desonerando exportações, ampliando a cesta básica e melhorando a geração de renda”, continuou Haddad.
“Nós temos muito trabalho pela frente, mas eu estou muito tranquilo com o legado que estamos deixando. Deixamos a maior reforma tributária já feita na história do Brasil. Compramos briga para cancelar privilégios tributários indevidos, com gente muito forte, mas convencemos o Congresso Nacional de que era justo, correto”, disse o ministro da Fazenda.
Para Haddad, após o fim do governo Lula, “nós vamos morar em um país melhor”. “Este trabalho vai dar resultado. E ele não está completo, tem muita coisa pela frente. Que bom que demos um passo, mas temos muita coisa para fazer”, completou.
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Precatórios e emendas
Durante sua participação no evento em São Paulo, Fernando Haddad enumerou os problemas que a agenda econômica do país passou a enfrentar nos últimos anos, como o avanço dos precatórios e das emendas parlamentares.
“Temos R$ 50 bilhões de emenda parlamentar. Só no Fundef, que é da época do FHC, nós pagamos mais de R$ 30 bilhões para estados e municípios durante este governo Lula. Os precatórios praticamente dobraram de tamanho. Estamos fazendo um trabalho junto ao Judiciário para cuidar das grandes causas, para não tomarmos outro gol deste, outro 7 a 1. Não é para fazer lobby, é para explicar as consequências e a base técnica de cada decisão. Antes nós não tínhamos precatórios e não tínhamos emendas”, observou.
Segundo Haddad, “aconteceram fatos no Brasil que atrasaram a questão orçamentária e não estavam dados em 2011”. “Temos de olhar para as contas públicas com maturidade”, disse o ministro. “Acho que vamos ter de ter uma nova rodada de negociação com o Congresso. Você tem de criar as condições políticas.”
Arcabouço fiscal e negociação com o Congresso
Apesar das dificuldades, disse Haddad, não há motivos para o governo Lula reclamar da Câmara dos Deputados ou do Senado, que, segundo ele, vêm colaborando com o avanço da pauta econômica.
“Eu não reclamo do Congresso. O Congresso não me deu 100% do que eu pedi, mas me deu 70%. É um bom índice”, destacou.
Em relação ao arcabouço fiscal, regra aprovada ainda no início do governo Lula para frear a expansão dos gastos públicos, Haddad afirmou que se trata de um projeto em constante aperfeiçoamento – e que também depende do apoio do Legislativo para se concretizar.
“Se tomar como parâmetro o que hoje são as regras do arcabouço, quanto mais a gente colocar para dentro da regra, fazendo a soma das partes caberem no todo, mas com discernimento de que tem muito desperdício, a gente pode chegar lá”, disse o ministro.
“Não são brigas fáceis. Brigamos por desoneração da folha, vencemos. Briga com Perse, com isenção de fundo familiar, com isenção de offshore… nada disso significa aumento de imposto. Tudo isso significa corte de gasto tributário. A sociedade não está pagando um centavo a mais de imposto. Quem está pagando é quem não pagava.”
Ainda de acordo com o ministro da Fazenda, a agenda da economia depende, fundamentalmente, da costura política junto ao Congresso para avançar.
“Nós recuperamos o piso de saúde e educação. Nada contra rever regras que precisam ser revistas, mas você precisa construir um ambiente no Congresso Nacional em que se consiga compreender que o arcabouço, para funcionar, você precisa sentar com os parlamentares e falar que vamos precisar ajustar algumas regras. Senão, o arcabouço não vai ser sustentável no longo prazo”, afirmou.
“O Brasil precisa de crescimento. O crescimento ajuda no fiscal. Quando você faz uma coisa muito ortodoxa, para as condições da economia brasileira, ela não se justifica”, completou o ministro.
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