Emprego deve seguir “robusto” nos próximos meses, dizem economistas

Os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta terça-feira (16/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam a resiliência do mercado de trabalho no país, que deve se manter “robusto” nos próximos meses.

A avaliação é de economistas e analistas do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, pouco depois do anúncio do IBGE. De acordo com o levantamento do instituto, a taxa de desocupação no trimestre encerrado em julho de 2025 foi a menor da série histórica iniciada em 2012, em 5,6%.

O índice recuou um ponto percentual em relação ao trimestre móvel anterior (6,6%) e 1,2 ponto percentual na comparação com o mesmo período de 2024 (6,9%).

O que diz o mercado

André Valério, economista sênior do Banco Inter, afirma que o mercado de trabalho se mantém robusto e a baixa taxa de desocupação já indica sinais de aceleração no rendimento real, que devem ser observados atentamente nos próximos meses. “Por outro lado, parte dos resultados decorreram de uma redução de oferta de mão de obra, enquanto a demanda, apesar de ainda forte, demonstra sinais de arrefecimento no Caged que oferece informações mais tempestivas”, afirma Valério.

“No qualitativo, nota-se boa geração de emprego no setor formal privado e público, enquanto os trabalhadores por conta própria e informais registraram estabilidade na mesma tendência recente”, diz o economista.

“Setorialmente, é importante salientar o arrefecimento do varejo, que gerou retração atípica para o mês e reforçou a menor robustez na geração de empregos desde abril, consoante com a retração de atividade registrada na Pesquisa Mensal de Comércio e refletindo prováveis efeitos da política monetária no crédito ao consumidor, particularmente no segmento de vendas de veículos”, explica.

Segundo Valério, “as medidas de renda continuam sua tendência de crescimento firme, com a massa de rendimento efetivo real atingindo R$ 355,29 bilhões, enquanto o rendimento real médio cresce 3,89% e 3,78% em 12 meses para a série habitual e efetiva, respectivamente, com alguns sinais de aceleração, particularmente para o setor de construção e serviços, que enfrentam escassez de mão de obra em meio à baixa taxa de desocupação e podem pressionar a inflação subjacente por meio de repasses ao consumidor”.

“Percebem-se também sinais de desaceleração na indústria de transformação, potenciais impactos do tarifaço no comércio externo que ainda não foram refletidos nos dados do IBGE como possível decorrência da metodologia de média móvel da Pnad”, diz Valério.

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o mercado de trabalho “continuará forte ao longo de 2025”. “Nossa projeção é de que a taxa de desemprego encerre o ano próxima a 5,5%, patamar bastante baixo para os padrões históricos do país”, aponta.

“O crescimento do nível de ocupação também ajuda a estimular a atividade econômica, embora dificulte o controle da inflação, especialmente a de serviços. Nossa expectativa é de que o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] mantenha os juros em 15% até o fim de 2025 e comece a ver espaço para flexibilização a partir de março, com a Selic terminando 2026 em 13%.”

Segundo Igor Cadilhc, economista do PicPay, “a dinâmica foi positiva do ponto de vista qualitativo”. “O número de desocupados caiu, enquanto o total de trabalhadores com carteira assinada atingiu novo recorde, chegando a 39,1 milhões. Esse avanço contribuiu para a taxa de ocupação se manter em 58,8%, também em nível recorde, e para a taxa de estabilidade ficar em 37,8%”, observa.

“Olhando à frente, com base nos dados correntes e na natureza cíclica do mercado de trabalho, esperamos que o aquecimento persista ao menos até o final do terceiro trimestre, quando deve se iniciar um processo gradual de desaceleração. Para 2025, projetamos taxa média de desemprego de 6%, encerrando o ano em 5,6%”, completa Cadilhac.

O economista Maykon Douglas, por sua vez, destaca que “o mercado de trabalho doméstico vem renovando seus recordes nas últimas divulgações, liderado há um bom tempo pelo emprego formal”. “Para se ter uma ideia, a relação entre informais e empregados caiu para abaixo de 38% em julho, pela primeira vez desde meados de 2020. Ou seja, trata-se de uma trajetória bastante positiva também do ponto de vista qualitativo”, observa.

“O mercado de trabalho é o principal motivo da lenta desinflação do núcleo de serviços, por ser relativamente mais sensível às condições de demanda. A massa salarial mantém um forte crescimento real, de quase 6,3% nesta leitura, o que tem segurado alguns segmentos diante do atual cenário de desaceleração econômica”, prossegue Maykon.

Para o economista, “dada essa dinâmica conjunta entre emprego e inflação subjacente, o Copom não tem espaço para alterar o cerne da sua comunicação no momento e deve manter firme seu objetivo de manter a taxa Selic no atual patamar por tempo suficiente para reequilibrar os preços”.

O que diz o IBGE

A população desocupada (6,118 milhões) teve queda de 14,2% (ou menos 1 milhão de pessoas) no trimestre e caiu 16% (menos 1,2 milhão de pessoas) no ano. Já a população ocupada (102,4 milhões) foi recorde da série histórica, crescendo nas duas comparações: 1,2% (mais 1,2 milhão) no trimestre e 2,4% (mais 2,4 milhões) no ano.

De acordo com o IBGE, o nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) permaneceu no percentual recorde: 58,8%, subindo nas duas comparações: 0,6 ponto percentual no trimestre (58,2%) e 0,9 ponto percentual (57,9%) no ano.

O levantamento mostrou ainda que o número de empregados com carteira assinada no setor privado foi o novo recorde da série (39,1 milhões), com estabilidade no trimestre e alta de 3,5% (mais 1,3 milhão de pessoas) no ano. O número de empregados sem carteira no setor privado (13,5 milhões), por sua vez, ficou estável nas duas comparações.

Segundo o IBGE, o número de empregados no setor público (12,9 milhões) foi o novo recorde, crescendo nas duas comparações: 3,4% (mais 422 mil pessoas) no trimestre e 3,5% (mais 434 mil) no ano.

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