O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), voltou a defender nesta terça-feira (26/8) o aprofundamento das negociações com os Estados Unidos, para tentar amenizar ou reverter o tarifaço imposto pelo governo do presidente norte-americano Donald Trump.
Alckmin – que segue nesta terça para uma viagem oficial ao México – participou, com uma mensagem gravada, de um evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Council of the Americas. O seminário, intitulado “O Novo Cenário Global e o Papel do Setor Privado nas Relações Brasil–EUA”, acontece na sede da entidade industrial, em São Paulo.
“A relação entre os nossos países é estratégica. Temos quase 10 mil empresas brasileiras exportando para os EUA e quase 4 mil empresas americanas instaladas no Brasil, todas elas gerando emprego, inovação e investimento”, afirmou Alckmin no vídeo exibido na abertura do evento.
“É uma relação histórica, dinâmica, de ganhos mútuos. Uma relação assim não se desfaz por questões conjunturais. Pelo contrário, sempre merece aperfeiçoamento e ampliação”, prosseguiu o vice-presidente.
Segundo Alckmin, que vem liderando as negociações com os EUA, “o melhor caminho é manter o diálogo aberto, superar adversidades e buscar convergências”.
“Temos grandes oportunidades na indústria, nos serviços, na inovação e nos investimentos. Podemos e devemos ampliar parcerias”, disse.
O vice-presidente afirmou ainda que a integração entre Brasil e EUA “gera exportações, investimentos e empregos”.
“É o ganha-ganha que precisa ser vocalizado, destacado e reiterado na nossa palavra e nas nossas ações. O Brasil está comprometido com o comércio aberto, inclusivo e sustentável”, defendeu.
“Reafirmo minha convicção de que dificuldades e desafios existem, mas os benefícios e as oportunidades são maiores e prevalecerão. Porque é do interesse de nações, empresas e trabalhadores manter relações duradouras e equilibradas que contribuam para o seu desenvolvimento e para a melhoria das condições de vida de todos”, concluiu Alckmin.
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Tarifaço de 50% sobre o Brasil
Ao justificar a tarifa de 50% sobre grande parte dos produtos importados do Brasil, o governo Trump alegou que o país estaria promovendo uma “caça às bruxas” que teria como maior alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado do líder norte-americano.
De acordo com a Casa Branca, o Judiciário brasileiro estaria perseguindo Bolsonaro com o intuito de inviabilizá-lo politicamente. O ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter liderado uma tentativa de golpe de Estado no país, após ser derrotado nas eleições de 2022. O julgamento de Bolsonaro e outros sete réus no STF foi marcado para o dia 2 de setembro.
Os EUA também instauraram investigação comercial, aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), a pedido de Trump. O governo norte-americano afirma que a análise visa a investigar supostas práticas comerciais desleais do Brasil em relação aos EUA e cita como exemplo as recentes disputas judiciais envolvendo plataformas digitais norte-americanas.
Pacote de socorro do governo
Há duas semanas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou medidas de ajuda aos setores da economia mais afetados pelo tarifaço. Apelidada pelo governo de Brasil Soberano, a Medida Provisória (MP) prevê uma série de ações com foco em auxiliar os pequenos empreendedores a diminuir os prejuízos causados pelas novas taxas. As medidas passam a valer imediatamente após a assinatura e precisaram ser aprovadas em até 120 dias pelo Congresso.
A MP passa a tramitar no Congresso com a criação de uma comissão mista, composta por deputados e senadores, que vão analisar o texto. Depois de aprovada no colegiado, a medida terá que ser aprovada também pelos plenários da Câmara e do Senado. Caso não seja votada em 120 dias, a MP perde a validade. Um dos pontos que estão no texto é a concessão de linhas de crédito de R$ 30 bilhões para pequenos produtores afetados pelo tarifaço.
Segundo economistas e analistas do mercado ouvidos pelo Metrópoles, um ponto de atenção é o potencial impacto do pacote no já delicado quadro fiscal brasileiro, em um momento em que o governo tenta reduzir gastos para equilibrar as contas públicas, além da possibilidade de as medidas se tornarem permanentes, e não apenas temporárias.
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