Por Agência Brasília
As escolas de gestão compartilhada do Distrito Federal alcançaram índices de aprovação acima dos 80% entre pais, alunos, professores e servidores. Presente em 25 unidades de ensino atualmente, o modelo cívico-militar é fruto de parceria entre as secretarias de Educação (SEEDF) e de Segurança Pública (SSP-DF). Os dados de satisfação são monitorados com o objetivo de aprimorar os serviços prestados para a comunidade e garantir o bem-estar e o aprendizado dos discentes.
A menor nota verificada nas 11 escolas analisadas foi de 81,38%, enquanto a maior foi de 98,3%, registrada no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 17 de Taguatinga. Com mais de 840 estudantes matriculados, a unidade foi incluída no modelo de gestão compartilhada em fevereiro deste ano e já colhe bons resultados, conforme conta a diretora Andréia Ferreira: “Os pais colocaram na pesquisa o quão agradável e seguro está o ambiente para os alunos. A gestão compartilhada está mudando a nossa realidade”.
A gestão compartilhada é oferecida em áreas de vulnerabilidade mapeadas pela Secretaria de Segurança Pública
Há mais de uma década na unidade, a diretora cita as mudanças na rotina escolar. “O adolescente aprendeu a ser mais comportado, a seguir regras — que é o principal estranhamento no começo, mas depois começa a ser normal”, exemplifica. “Estamos conseguindo fazer com que eles pensem no futuro. O estudante está conversando o tempo todo sobre escolhas, prevenção ao uso de drogas, à gravidez — coisas sérias que podem impedir ou retardar o crescimento profissional deles. Essa oportunidade de repensar as escolhas, as companhias, é incrível”, afirma Andréia Ferreira.
Instituída em 2019 com quatro escolas-piloto, a gestão compartilhada é oferecida em áreas de vulnerabilidade mapeadas pela Secretaria de Segurança Pública. Antes da implantação, o projeto é apresentado à comunidade em consulta pública. “O objetivo do projeto é levar uma educação de qualidade para a população e fazer o ambiente escolar mais seguro”, explica o subsecretário das Escolas de Gestão Compartilhada, coronel Alexandre Ferro.
“Levamos esse modelo para a comunidade mais carente, que tem o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] mais baixos, onde o mapa da violência nos aponta que o crime acontecia ali. Digo ‘acontecia’ porque quando o militar chega dentro da escola, quando vem esse braço do Estado, que é a segurança pública, a criminalidade se afasta e a escola se torna um ambiente mais seguro, com educação de qualidade, o que faz total diferença na vida dos jovens”, ressalta o subsecretário.
Cabe aos militares dar suporte aos profissionais da educação, conduzindo rotinas típicas de um colégio cívico-militar. Entre as ações, há acompanhamento da recepção dos alunos, condução ao momento cívico — como hasteamento da Bandeira Nacional —, manutenção dos corredores e acompanhamento disciplinar. Além disso, são responsáveis por projetos extracurriculares no contraturno que estimulam cultura, conhecimento e atividade física.
Cidadania, disciplina e comprometimento
A trajetória escolar de David Vinicius Durães, 16 anos, mudou completamente após a implantação da gestão compartilhada no CEF 17 de Taguatinga. Em 2024, ele precisou sair da instituição por questões disciplinares, mas retornou neste ano com vontade de viver uma nova fase. “Saí por problemas internos, mas como a escola sempre foi muito boa, resolvi voltar. Agora está mais organizada, com regras claras e uma direção nova. Mudou muito para melhor”, relata.

David Vinicius Durães: “Aprendi com os militares e com a direção que eu tenho um futuro pela frente e não posso deixar os erros do passado me atrapalharem”
Com o sonho de seguir carreira militar, David acredita que a disciplina e o comprometimento incentivados na unidade foram fundamentais para a transformação pessoal dele. “Antes eu era um aluno que não seguia normas, chegava sem uniforme, sem horário. Hoje entendo isso como uma oportunidade para evoluir. Aprendi com os militares e com a direção que eu tenho um futuro pela frente e não posso deixar os erros do passado me atrapalharem”, afirma.
Ana Luíza Batista, 14, também almeja uma carreira militar e aproveita a gestão compartilhada para ter contato com esse universo. A estudante atua como guarda-bandeira e corneteira durante as cerimônias da unidade. “Quando me juntei com os colegas para assumir essa função, vi que seria uma chance de crescer e de representar minha escola com orgulho”, afirma.

Ana Luíza Batista quer seguir a carreira militar: “Em algum momento, todo mundo vai precisar de regras e rotina. Aprendi isso na escola e sei que vou levar para o futuro”
Na avaliação dela, a unidade alcançou um novo patamar de qualidade de ensino. “Antes tinha muitas intrigas, os alunos não tinham compromisso. Agora, com regras e rotina, todo mundo segue certinho”, observa. Para ela, que teve medo da adesão ao modelo de educação, o cumprimento de normas não deve ser visto como algo negativo, mas como parte essencial da vida: “Em algum momento, todo mundo vai precisar de regras e rotina. Aprendi isso na escola e sei que vou levar para o futuro”.
Diferentemente dos colegas, Taylaine Melo, 15, deseja se tornar médica. “Meu sonho é fazer me dicina e sei que a experiência aqui na escola vai me ajudar muito no vestibular”, conta. “Minhas notas eram bem baixas, mas este ano aumentaram bastante. Aqui era bem desorganizado. Agora tem horário certo para tudo, para entrar, sair…está bem melhor”.
Mãe de dois estudantes, a dona de casa Claudia da Silva, 36, percebeu os benefícios do modelo no comportamento dos filhos. “Um dos meninos era terrível e agora deu uma acalmada. Eu tinha que vir aqui todo dia e hoje quase não venho mais. Mudou tanto em casa quanto na escola”, diz ela, que também observa o impacto positivo da gestão para a criminalidade da região. “Era bem complicado. Meu filho já sofreu agressão psicológica na porta da escola e isso nunca mais aconteceu, agora ele vai e volta tranquilo”.
Funcionamento
Do total de escolas cívico-militares, 17 contam com apoio do Corpo de Bombeiros Militar do DF e oito, com a Polícia Militar. As unidades estão nas regiões de Brazlândia, Ceilândia, Guará, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho, Taguatinga, Plano Piloto e Cruzeiro.
Três dessas escolas figuram entre os melhores desempenhos no Ideb da rede pública do DF: CEF 01 do Núcleo Bandeirante, CEF 19 de Taguatinga e CED 416 de Santa Maria.
O acompanhamento é feito pela Assessoria Especial para as Políticas para as Escolas Cívico Militares, vinculada à SEEDF, e pela Subsecretaria de Escolas de Gestão Compartilhada, da SSP-DF. De acordo com o planejamento governamental, o programa contemplará 40 instituições até o final de 2026. A seleção das novas unidades ainda está em fase de definição.
A atuação das forças de segurança se concentra em atividades extracurriculares de disciplina e cidadania, com presença de 20 a 25 agentes por escola. O custo médio de operação anual é de R$ 200 mil por unidade. Entre os projetos, há o Musicalização nas Escolas Cívico-Militares, em que os alunos aprendem a tocar um instrumento no contraturno escolar com apoio de músicos da reserva militar do Corpo de Bombeiros.
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